A possível candidatura de Lula à Presidência da República em 2026 carrega um peso simbólico inegável. Com 80 anos no pleito, o atual presidente sabe que, se decidir disputar, será sua última eleição. Esse fator, por si só, já molda a equação política de forma singular, abrindo tanto uma oportunidade quanto um risco.
De um lado, Lula pode explorar com força o apelo emocional de uma despedida histórica. Apresentar-se como o líder que quer encerrar sua trajetória dando uma última contribuição ao país — defendendo a democracia, protegendo os avanços sociais e impedindo a volta da extrema direita — pode mobilizar não apenas o eleitorado tradicional do PT, mas também segmentos mais moderados que veem nele um escudo contra a instabilidade institucional. A narrativa de uma “última missão” tem potencial de unificar forças e criar um clímax eleitoral carregado de emoção.
Mas, por outro lado, o risco de encerrar a carreira com uma derrota não é desprezível. Lula construiu sua imagem como um vencedor resiliente, que superou prisões, escândalos e derrotas para chegar ao Planalto três vezes. Ser derrotado na eleição que entraria para a história como sua despedida poderia comprometer esse legado. Há um componente de cálculo pessoal e político nesse dilema: Lula não é um político que aceite sair de cena pela porta dos fundos.
Além disso, o cenário de 2026 é incerto. A economia, os desdobramentos judiciais sobre adversários, o nível de desgaste do governo e o desempenho da oposição — tudo isso influenciará a decisão. O petista sabe que disputar uma eleição não é apenas sobre vontade, mas sobre chance real de vitória. Se perceber que o cenário não é favorável, pode preferir abençoar um sucessor e preservar o próprio mito.