Aliados de Jair Bolsonaro bem que tentaram, mas fracassou a greve de caminhoneiros convocada para a semana passada. Uma análise do Núcleo de Integridade de Informação, da Nova Agência, que atende as contas do governo, mostrou que, antes de naufragar nas rodovias, a ideia não empolgou nas redes sociais.

O núcleo analisou mais de 18 mil publicações entre 1º e 5 de dezembro e detectou um padrão de baixo engajamento, reduzida densidade de interação e ausência de lideranças capazes de centralizar e engajar o público. A análise indica que a mobilização fracassou ao ser rapidamente associada à pauta política do bolsonarismo, em especial à defesa de anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro.

Embora caminhoneiros historicamente integrem a base de apoio do bolsonarismo, circularam vídeos e mensagens de motoristas rejeitando a paralisação e afirmando não aceitar o papel de “massa de manobra política”.

A disputa narrativa ganhou força quando perfis da direita passaram a associar explicitamente a greve à pressão por anistia, enquanto usuários progressistas destacaram a baixa adesão e apontaram melhora do cenário econômico como razão para a resistência da categoria à paralisação.

A greve estava marcada para 4 de dezembro. A proposta era repetir o impacto gerado pela paralisação da categoria em maio de 2018, no governo Temer. A pauta, naquele ano, tinha um embasamento econômico: a redução nos preços do óleo diesel, a fixação de uma tabela de preço mínimo de frete e a isenção de impostos como o PIS/Cofins sobre o combustível.

O Núcleo de Integridade da Informação avaliou que há um desgaste da capacidade de mobilização da extrema-direita fora de seus círculos militantes tradicionais, inclusive entre grupos antes considerados aliados estratégicos. Para os pesquisadores, o fracasso da convocação expôs limites crescentes da instrumentalização política de pautas corporativas e sinalizou fissuras no vínculo entre lideranças bolsonaristas e sua base social.