Vilão da inflação no último ano, o preço dos alimentos pesa no bolso e desafia os brasileiros a cada ida ao supermercado. Da carne ao ovo, passando pelo café e pelo azeite, a alta foi generalizada, o que levou o governo a pressionar o setor produtivo e a adotar medidas para tentar elevar a oferta de produtos a um custo menor para o consumidor. A redução da alíquota de importação para vários itens foi uma delas e gerou desconforto entre empresários.
“Preço de alimento baixa quando aumenta a produção”, afirmou ao PlatôBR o presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), João Martins. “É isso que queremos mostrar ao governo. Ninguém está prendendo alimento”, completou. O preço da carne, segundo o dirigente, caiu mais de 10% nos últimos 60 dias. A justificativa é a oferta.
Avaliando os próximos meses, Martins é categórico sobre a contribuição dos alimentos para o controle da inflação oficial em 2025: “não vai ter problema nenhum”. A aposta do governo e dos produtores está na expectativa da safra recorde. “Vamos produzir alimentos. Esperamos 330 milhões de toneladas”, afirma.
Segundo a CNA, 80% de tudo o que é produzido na área agrícola no Brasil é consumido internamente e, portanto, é errada a afirmação de que os grandes produtores só exportam. “Existe no Brasil essa dicotomia: o pequeno produz para mesa dos brasileiros e o grande para o mercado externo. Não é verdade”, defende José Mário Schreiner, vice-presidente da CNA. Segundo ele, criou-se uma narrativa que não existe: "Todos nós produzimos alimentos para consumo interno e o excedente para exportação”.
Schreiner rebate as críticas ao setor por causa da pressão inflacionária. “O produtor rural não forma preço. Ele é tomador de preço. O que forma é a oferta e a demanda”, argumenta. O executivo da CNA ressalta que o preço dos alimentos subiu no mundo todo e que parte da alta de alguns itens no Brasil ocorreu, também, em função de problemas externos.
Crítico à ideia do governo de combater aumento de preços com mais importação, ele diz que alguns problemas precisam ser avaliados antecipadamente para adoção de políticas públicas. “Não adianta reclamar do preço do ovo depois que já estourou ou querer achar culpados”, diz.
Ainda em março, a CNA deverá encerrar a rodada de conversas com produtores de todas as regiões do país para ouvir as demandas para a safra 2025/2026 e repassá-las ao Ministério da Agricultura. Nesta semana, representantes da confederação apresentaram no Congresso a agenda legislativa da entidade, uma lista de projetos em tramitação que interessam ao setor. Segundo Schreiner, além de maior agilidade nas análises do Cadastro Ambiental Rural, os produtores têm grande expectativa na validação do marco temporal já aprovado, em melhores condições de crédito e para o seguro rural, e em estímulo à inovação.