O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem cumprido nas últimas semanas uma agenda típica de candidato. A rotina do chefe do executivo da capital paulista inclui encontros em igrejas evangélicas, aniversário de sacerdócio de padres, inauguração de gramado em campos de futebol de centros esportivos, anúncio de criação de faixas especiais de trânsito para motociclistas e entrega de títulos de regularização fundiária na periferia. Em alguns desses eventos, ganhou incentivos para sua possível candidatura ao governo do estado.
Em um encontro com empresários na segunda-feira, 24, o próprio Nunes deixou aberta a possibilidade de se lançar na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. Em um encontro com empresários, questionado sobre a possibilidade de se lançar candidato, ele deu uma resposta evasiva: "Coisas acabam mudando". No contexto, a frase tem um único significado: o prefeito pode tentar a candidatura ao governo.
Nesse rumo, nesta quinta-feira, 27, Nunes participou da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira, na sede da denominação no Brás, região central de São Paulo, ao lado do bispo Samuel Ferreira e de deputados ligados à denominação. Estavam também nesse evento o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que também deseja ser candidato à presidência, e o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, agora coordenador de eventos políticos em favor de uma possível anistia a Bolsonaro.
No encontro, o bispo Samuel lançou o nome de Nunes como candidato a governador em São Paulo em dobradinha com Tarcísio para o Palácio do Planalto, diante da provável saída de Bolsonaro do páreo. Samuel é presidente-executivo da Convenção Nacional Assembleia de Deus Madureira, que reúne os templos da denominação pelo país.
Em outros eventos, o prefeito também tem exaltado suas realizações e prestigiado eventuais apoiadores. Na quarta-feira, 26, ele entregou um novo trecho de faixa de trânsito em solenidade com dirigentes do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo. No dia 16, participou do aniversário de 40 anos de sacerdócio do padre Geraldo Rodrigues Aquino e da entrega do gramado de um campo de futebol do Centro da Comunidade Raul Antonio Marques, os dois eventos na Zona Leste, a região mais populosa da periferia paulistana.
Nunes também tem participado de eventos em dobradinha com o governador. A presença constante de Tarcísio em atos com o prefeito é vista por muitos aliados como um sinal de que o governador já estaria colocando em prática o seu “plano B”, a disputa ao Planalto. Tarcísio apoiou a candidatura de Nunes a prefeito no ano passado, principalmente no momento em que ele caía nas pesquisas, após um crescimento do concorrente Pablo Marçal (PRTB). O governador, no entanto, mantém o discurso oficial de que não fará nenhum movimento para se contrapor a Jair Bolsonaro.
A movimentação de Nunes tem provocado queixas de aliados. Com a provável saída do ex-presidente da disputa, e com a possibilidade de Tarcísio não concorrer à reeleição, outros nomes de partidos aliados do governador também pleiteiam o governo estadual. Já se manifestaram como possíveis candidatos o ex-prefeito paulistano e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab; o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL), e o deputado e ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro Ricardo Salles (Novo).