Cofundador do Novo, o engenheiro e administrador de empresas João Amoêdo vê com desencanto os rumos da direita no país. Para ele, não há liderança capaz de enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2026. Amoêdo criticou os governadores que foram ao ato por anistia na Avenida Paulista, no domingo, 6, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Dentre os sete que marcaram presença no encontro, quatro são cotados ao próximo pleito presidencial: Tarcísio de Freitas, do Republicanos e governador de São Paulo; Ratinho Junior, do PSD do Paraná; Romeu Zema, do Novo de Minas Gerais; e Ronaldo Caiado, do União de Goiás.

“Estão se colocando como bajuladores do Bolsonaro”, disse, em entrevista à coluna.

Confira os principais trechos a seguir.

Como o senhor vê esse processo em defesa da anistia pela direita?

Para o país, é muito ruim. Qualquer pessoa em sã consciência tem dificuldade em acreditar que o Bolsonaro, que já fez a apologia a torturador, que fez chacota quando as pessoas morreram na pandemia, dizendo que não podia fazer nada e que não era coveiro, que sempre usou aquele slogan de que bandido bom é bandido morto, de uma hora para outra agora esteja preocupado com as pessoas que foram presas. A anistia e essa história do batom são narrativas. Ele quer a anistia para si, principalmente. Como sempre, a visão dele é muito egoísta.

O que o senhor pensa dos governadores que marcaram presença no ato?

Os governadores estão fazendo uma aposta totalmente errada. Estão se colocando como bajuladores do Bolsonaro, tentando capturar o capital político dele, fazendo um cálculo de que muito provavelmente Bolsonaro vai continuar inelegível e possivelmente até será preso. Eles querem buscar esse espólio eleitoral do Bolsonaro e, por isso, não se indispõem com o bolsonarismo. O que é um risco grande porque a probabilidade maior é que Bolsonaro no final delegue a sucessão dele a algum dos filhos, e esses governadores ficarão a ver navios, perdendo assim não só o voto dos bolsonaristas como dos antibolsonaristas. Quer dizer, é uma estratégia não só errada do ponto de vista político-eleitoral como também é uma estratégia ruim para o país, porque, afinal de contas, eles estão questionando os poderes única e exclusivamente por oportunismo político.

Como assim?

Eu não acredito que o Zema ou o Tarcísio tenha pego o telefone hoje para ligar para os deputados dos seus estados pedindo para que votem pela anistia. Não acredito que eles estejam fazendo esse trabalho. É só realmente um trabalho de tentar cooptar uma narrativa. É uma estratégia ruim. Mantém a polarização e consolida para o eleitor normal de que esse grupo da direita é contra a democracia, que é um grupo que não respeita as instituições, um grupo autoritário. Não oferecem uma oportunidade efetiva de ganho contra o PT e ficamos no pior dos mundos numa disputa para escolher o menos pior.

Lula é favorito para vencer a disputa presidencial em 2026?

Mesmo com a grande desaprovação que as pesquisas têm demonstrado em relação ao governo, as pesquisas eleitorais seguem apontando o Lula favorito contra todos os outros. A direita não está conseguindo consolidar uma liderança e está vivendo à sombra do Bolsonaro. Agora, se o Bolsonaro perdeu para o Lula com o governo na mão, imagina sem? A gente já sabe que nenhuma dessas lideranças vai capturar 100% do poder de voto que tinha o Bolsonaro. O Bolsonaro se desgastou em todo esse processo. Então, imaginar que alguém vai ser viável porque está indo na sombra do Bolsonaro, eu não acredito.

Qual deve ser o papel do presidente Lula diante do tarifaço proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump?

Eu acho que o Lula foi feliz em criticar o Trump, dizendo que essa política de protecionismo não funciona e que empobrece as nações. Mas, infelizmente, é exatamente isso que o Brasil está fazendo. O Brasil é um dos países mais fechados do mundo, tem uma taxa de comércio muito baixa quando se compara com outros países. O Brasil deveria estar procurando abrir mais a economia, fazer acordo com outros países, com outros parceiros, fazer exatamente o contrário do que os Estados Unidos estão fazendo. O Lula deveria aproveitar esse momento para fazer mais parcerias com países asiáticos e europeus. Seria o caminho para tentar minimizar os efeitos de uma possível recessão global.

Qual a sua avaliação sobre a economia no governo Lula?

O principal mérito, do ponto de vista econômico, foi a reforma tributária que foi feita. Isso vai melhorar muito a eficiência dos mercados e das empresas. Agora, o principal problema do governo, que acaba gerando inflação, é que ele não conseguiu reduzir gastos. A gente não conseguiu fazer uma reforma administrativa e a Previdência precisa passar por outra reforma porque já está com um rombo bastante elevado. E o governo fez uma política de arcabouço fiscal que é baseado única e exclusivamente em aumento de receita, buscando a solução no aumento de impostos e não na redução dos custos, o que gera mais inflação e gastos públicos. Dificilmente isso vai ser resolvido baixando os impostos para a importação de alimentos.