A banda Ira!, uma das mais tradicionais do rock nacional, envolveu-se em uma polêmica após seu vocalista, Nasi, pedir que fãs bolsonaristas fossem embora de um show em Contagem, em Minas Gerais, em 29 de março. Nasi endossou gritos de “sem anistia” vindos da plateia, o que incomodou uma minoria do público presente.

A atitude do roqueiro viralizou nas redes e ganhou novos contornos nos últimos dias, quando a produtora 3LM Entretenimento decidiu cancelar as apresentações do grupo em cidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mario Zeferino, produtor responsável pelos shows cancelados no Sul do país, alegou que teve prejuízo com os pedidos de devolução do valor pago por clientes descontentes com o posicionamento político da banda.

Em entrevista à coluna, Nasi disse que as declarações de Zeferino, que criticou o grupo por misturar política e música, foram infelizes. “Esse tipo de atitude de pensar que artistas têm de subir ao palco, cantar e ir embora é bastante reacionária. Se ele teve prejuízo, nós também tivemos”, disse Nasi. “Eu não faço palestras em shows, mas o combate à anistia é urgente e a maior parte da população pensa como eu.”

Embora o vídeo viralizado mostrasse Nasi pedindo que um grupo de fãs fosse embora do concerto em Contagem, Nasi disse que não expulsou ninguém daquele show. “Eu não expulsei ninguém, tanto é que as pessoas que vaiaram continuaram lá e me atormentaram o show inteiro”, afirmou. “Eu verbalizei o que pensa a maioria do povo brasileiro. Ninguém quer parar o Brasil por conta da chantagem de criminosos.”

“As pessoas se acovardam perante essa horda de fascistas, que são, diga-se, uma minoria no país. Na verdade, o que eu falei foi uma nota de repúdio a fãs extremistas, de extrema direita, que dizem curtir o Ira!, vão ao show, põem camisetas do Ira! e têm discos da banda.”

O cantor lamentou o cancelamento dos shows no Sul e disse que a banda está enfrentando uma ação das milícias digitais, que diz serem “o mais puro nazifacismo”. Ele ressaltou a importância da regulamentação das redes sociais no Brasil.

“O Ira! está enfrentando uma ação das milícias digitais, que, aliás, é uma pauta que deveria caminhar no Congresso”, afirmou. “Isso [as milícias digitais] me lembra muito bem a Alemanha do início dos anos 30, onde Hitler tinha o seu exército particular e fazia com que ele batesse em todos os seus opositores.”

Nasi disse que a banda está motivada e ensaiando para uma turnê que celebra os 20 anos do lançamento do Acústico da banda, em parceria com a MTV, em 2004. “Vamos estrear [a turnê] agora no final de abril. Os ensaios estão ficando incríveis e o público vai poder curtir um grande espetáculo do Ira!”, disse. “Lamentamos o que aconteceu, principalmente pelas milhares de pessoas nessas cidades que queriam ver o Ira!, mas não vão poder por conta das milícias digitais e da covardia de um produtor.”