A avaliação do governo Lula sobre o fim da escala de trabalho 6x1 é de que o movimento é “positivo” e deve ser apoiado, mas não necessariamente encampado.
Para o governo, essa bandeira hoje não é da gestão Lula, pois surgiu de forma autônoma na sociedade, como um fenômeno de redes sociais. Quem assumiu agora a proposta na Câmara foi a deputada Érica Hilton (Psol-SP), que coletou 194 assinaturas para apresentação da PEC que acaba com a jornada 6 por 1. Eram necessárias 171 assinaturas.
Petistas no governo lembram que o presidente Lula sempre defendeu a redução da jornada de trabalho e, por isso, concorda com a reivindicação. No entanto, avaliam ser melhor o governo ficar de fora “até para não atrapalhar”.
Há um temor de que a pauta, que ganhou força nas redes sociais nas últimas semanas, venha a perder fôlego mais adiante e uma eventual derrota em votação no Congresso seja atribuída ao governo. Petistas influentes admitem que, no momento, o governo não tem força para encampar propostas de mudanças trabalhistas como essa que tenham chances de ser aprovadas no Congresso, formado atualmente por uma maioria conservadora.
Há ressalvas, entretanto, pois até um parlamentar bolsonarista está defendendo o fim da jornada 6x1: o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), que surpreendeu eleitores e colegas de bancada conservadores, contestando argumentos de que a iniciativa quebraria a economia no país.
Governistas lembram que quando o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, em março, quis levar adiante um projeto de lei complementar de autoria do Poder Executivo para regulamentar a relação de trabalho nas empresas operadoras de aplicativos de transporte, os maiores interessados, os trabalhadores do setor, se manifestaram contra. Foi um desgaste para o governo.
Agora, ao ser ouvido sobre o movimento em favor da mudança na jornada, Marinho se esquivou: disse que a questão deve ser tratada em acordos coletivos, entre trabalhadores e empregadores.
Apesar do receio entre governistas de apoiar o fim da escala, Érica Hilton se encontrou ontem com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que havia apresentado uma outra PEC sobre o mesmo tema em 2019, para traçarem uma estratégia conjunta em torno da proposta.