A morte do papa Francisco repercutiu fortemente no meio político no Brasil e no mundo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou luto oficial de sete dias em homenagem ao pontífice com quem teve uma relação bastante próxima, de amizade, inclusive antes de o petista voltar à Presidência da República. Segundo fontes do Planalto, ainda não há previsão de que Lula vá ao funeral do papa, no Vaticano. Essa viagem, porém, não foi descartada.
“O papa Francisco viveu e propagou em seu dia a dia o amor, a tolerância e a solidariedade que são a base dos ensinamentos cristãos. Assim como ensinado na oração de São Francisco de Assis, o argentino Jorge Bergoglio buscou de forma incansável levar o amor onde existia o ódio. A união, onde havia a discórdia. E a compreensão de que somos todos iguais, vivendo em uma mesma casa, o nosso planeta, que precisa urgentemente dos nossos cuidados”, disse Lula, por meio de suas redes sociais.
O presidente brasileiro conheceu o religioso quando ele ainda era cardeal em Buenos Aires. Em maio de 2019, quando Lula estava preso em Curitiba, o papa enviou uma carta ao petista na qual dizia para ele "não desanimar e continuar confiando em Deus”. “A sua Páscoa, sua passagem da morte à vida, é também a nossa páscoa: graças a Ele, podemos passar da escuridão para a Luz; das escravidões deste mundo para a liberdade da Terra prometida; do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos para a amizade que nos une a Ele; da incredulidade e do desespero para a alegria serena e profunda de quem acredita que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”, disse o pontífice na correspondência.
Nesta segunda, Lula apontou a luta do papa em relação ao meio ambiente e no combate à desigualdade, à fome e à miséria no mundo. “Com sua simplicidade, coragem e empatia, Francisco trouxe ao Vaticano o tema das mudanças climáticas. Criticou vigorosamente os modelos econômicos que levaram a humanidade a produzir tantas injustiças. Mostrou que esse mesmo modelo é que gera desigualdade entre países e pessoas. E sempre se colocou ao lado daqueles que mais precisam: os pobres, os refugiados, os jovens, os idosos e as vítimas das guerras e de todas as formas de preconceito”, destacou o petista que relembrou momentos em que esteve com o papa, ao lado da primeira-dama Janja da Silva.
"Nas vezes em que eu e Janja fomos abençoados com a oportunidade de encontrar o Papa Francisco e sermos recebidos por ele com muito carinho, pudemos compartilhar nossos ideais de paz, igualdade e justiça. Ideais de que o mundo sempre precisou. E sempre precisará. Que Deus conforte os que hoje, em todos os lugares do mundo, sofrem a dor dessa enorme perda. Em sua memória e em homenagem à sua obra, decreto luto de sete dias no Brasil. O Santo Padre se vai, mas suas mensagens seguirão gravadas em nossos corações”, completou.
Em fevereiro deste ano, Janja esteve com o papa no Vaticano quando, ao lado do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, participou em Roma da primeira articulação para a formação da aliança global contra a forma a pobreza, objetivo lançado pelo governo brasileiro durante a cúpula do G20, no Rio de Janeiro, no ano passado.
Religião distinta
Mesmo entre políticos que não professam a religião católica, a notícia foi motivo de manifestação de admiração e de reconhecimento do papel pacifista desempenhado pelo pontífice ao longo do seu papado. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que é judeu, expressou, em nota, ter se sentido tocado ao participar de uma missa celebrada pelo papa em 2019. "É com profunda tristeza que recebo a notícia do falecimento de Sua Santidade, o Papa Francisco. O Congresso Nacional do Brasil une-se em solidariedade à comunidade católica em todo o mundo, à Santa Sé e a todos aqueles que tiveram suas vidas tocadas pelo papado de Francisco", disse o senador.
"Como Presidente do Senado e como judeu, expresso a minha mais profunda admiração pela vida e obra do Papa. Em 2019, tive a honra de assistir a uma missa celebrada pelo papa e essa experiência me deixou uma marca profunda. Sua palavra e sua bênção ficarão para sempre em minha memória", publicou o senador em suas redes sociais.
O papa estava com 88 anos e foi internado há algumas semanas para tratar uma bronquite. Ele passou por sérias dificuldades respiratórias e foi diagnosticado com pneumonia bilateral. Ele havia recebido alta há um mês. O anúncio foi feito na manhã desta segunda-feira, 21, pelo o cardeal Farrell, da Capela Santa Marta. "Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.
Também o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou sobre a morte do papa Francisco, dizendo que ele “sempre foi sinal de unidade, esperança e orientação moral”. "O mundo e os católicos se despedem daquele que ocupava uma das figuras mais simbólicas da fé cristã: o Papa. Mais que um líder religioso, o papado representa a continuidade de uma tradição milenar, guardiã de valores espirituais que moldaram civilizações. Para o Brasil e o mundo, a figura do papa sempre foi sinal de unidade, esperança e orientação moral. Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza", postou o ex-presidente.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que a morte do Papa Francisco deixa um vazio de bondade e fraternidade no mundo. "Mas seu legado ficará vivo para sempre entre nós", postou. "Poucos líderes foram tão marcantes para mim como o Jorge Mário Bergoglio. Papa Francisco foi o primeiro jesuíta e o primeiro latino a ocupar o posto mais alto da Igreja. Porém, para mim, o que mais marcou sua passagem foram as transformações que ele promoveu. Francisco foi o símbolo do diálogo, do acolhimento, da compreensão e, principalmente, da inclusão. Foi o papa que abriu a Igreja e a colocou no século XXI. Um líder que ficará na história pela força dos seus gestos. Eu e minha família seguiremos em oração por este líder que foi símbolo de esperança e justiça. Sem dúvida um exemplo de vida e luta para todos nós", destacou.
No Judiciário
Também ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) renderam homenagens ao pontífice. O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, destacou o carisma e a empatia do papa. "A espiritualidade verdadeira é a expressão do bem, do amor e da paz, com sabedoria, tolerância e compaixão. O Papa Francisco encarnou essas virtudes como poucas lideranças nos dias de hoje. E a elas acrescentou o carisma e a empatia. A compreensão em lugar dos dogmas. Num tempo em que há muita escuridão, foi uma luz iluminando a humanidade. A história o reconhecerá como um dos maiores", disse o ministro.
Gilmar Mendes destacou a importância dos ensinamentos do papa em um mundo dominado pelo ódio. "Diante de um mundo de intolerância e ódio, Francisco nos deixou lições que transcendem a fé: acolher o próximo, semear a inclusão e combater a desigualdade. Seu legado na defesa dos mais vulneráveis o tornou um farol de paz e fraternidade mesmo nos momentos mais difíceis", disse o ministro nas redes sociais.
Católico, o ministro Flávio Dino lembrou palavras do papa lembrando ensinamentos de São Francisco de Assis. "O Papa Francisco integra, com destaque eterno, a história da nossa Igreja Católica. Foi um exemplar Cristão latino-americano. Em um mundo em que o ódio virou indústria de bilionários, sua pregação de Estadista da Fraternidade é essencial", disse o ministro. E apontou os sermões no qual o pontífice destacou um "convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro".