A tendência na Igreja Católica é de que Roma eleja um novo papa com posições mais ao centro para substituir o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, o primeiro papa latino-americano, que morreu nesta segunda-feira, 21, aos 88 anos, às 2h35 no horário de Brasília. Ele se recuperava de problemas respiratórios graves, passou 38 dias internado e teve alta há uma semana.
Especialistas ouvidos pelo PlatôBR avaliam que a tendência é que a Santa Sé opte por um nome nem tão “progressista” como Francisco era considerado – ele era mais identificado com a chamada “Igreja dos pobres” –, nem com o perfil de papas tidos como mais conservadores, como João Paulo II e Bento XVI.
Francisco fez mudanças na Cúria Romana, mas não tanto quanto gostaria. Ele tentou implementar mudanças previstas no Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965, mas enfrentou resistências, como observou o religioso dominicano e escritor Frei Betto.
“Ele governava a Igreja com uma cabeça progressista, mas que tinha um corpo conservador. É preciso observar que ele foi precedido por 34 anos dos pontificados conservadores de João Paulo II e Bento XVI”, avalia Frei Betto.
Nomes para substituí-lo já são cogitados, embora haja um antigo ditado em Roma segundo o qual todo religioso que entra em um conclave como favorito a se tornar papa sai de lá apenas como cardeal.
Fala-se, no entanto, em nomes como os cardeais Luis Antonio Tagle, de Manila, nas Filipinas, que seria o mais próximo da linha de Francisco e da Igreja da América Latin, e de Pietro Parolin, da Itália, que fazia parte do staff de Francisco e era bastante próximo dele. Outro nome citado e que também era da equipe de Francisco é o cardeal português José Tolentino de Mendonça.
Como um nome do campo conservador é lembrado como papável o cardeal Péter Erdô, da Hungria. “A Hungria fica no entroncamento entre a Europa e a Ásia. Isso o favorece. E ele tem diálogo com judeus e ortodoxos. Faz o meio de campo ideal. Seria o candidato do centro, ou do chamado “Centrão” na Igreja”, afirma o padre e teólogo Manoel Godoy, professor de Teologia na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte.
São citados ainda os nomes dos cardeais Peter Turkson, de Gana, Fridolim Ambongo Besungu, da República Popular do Congo, Matteo Zuppi, da Itália, e Robert Francis Prevost, dos Estados Unidos.
O ritual dos funerais do papa Francisco deverá ser concluído em nove dias. Pela primeira vez, o sepultamento ocorrerá fora dos muros do Vaticano. Ele pediu para ser enterrado num caixão simples na Igreja de Santa Maria Maior, e deverá ser atendido, e não na Basílica de São Pedro, onde estão os restos mortais de seus antecessores.
Em Roma, há o desejo de muitos integrantes da Cúria Romana de que o novo papa volte a ser um italiano.
Após o sepultamento, será iniciado o conclave, que escolherá o novo papa. O conclave pode ser concluído em dois dias, como foi o do próprio Francisco, mas pode levar até um mês. No século XIII, o conclave para a escolha do papa Gregório X levou dois anos, nove meses e dois dias, porque a Igreja Católica não conseguia chegar a um consenso.
Para o teólogo Godoy, o papa Francisco fez a Igreja sair para além dos limites da Cúria Roma. “Ele reforçou a Igreja em saída para as periferias geográficas e existenciais, corrigindo a rota de autorreferencialidade na qual estávamos mergulhados há três décadas”, diz Godoy. “Ele foi do centro para a margem, como nos dizia dom José Maria Pires (ex-arcebispo da Paraíba, que morreu em 2017).”