O governo aposta no consumo interno e no aumento dos investimentos produtivos para sustentar o crescimento econômico nos próximos anos. A estratégia poderá, inclusive, se beneficiar das turbulências externas atuais, na avaliação do ministro Fernando Haddad (Fazenda). A dúvida que fica, no entanto, é sobre o tempo necessário para surtir o efeito desejado - e se isso ocorrerá antes das eleições presidenciais de 2026, a tempo de reverter o desgaste na imagem do presidente Lula e na avaliação de sua gestão.

Para Haddad, que participou de um encontro com investidores nesta segunda-feira, 28, o Brasil tem um nível de investimento inferior ao mínimo há muito tempo e, atualmente, há um “conjunto de projetos com boas taxas de retornos que podem sair da gaveta”, e que se somará ao crescimento do consumo das famílias. “Esses são os estímulos corretos para crescer com estabilidade”, disse o ministro.

Haddad afirmou ainda que o país poderá, inclusive, se beneficiar da crise mundial desencadeada pela política protecionista do presidente americano Donald Trump.

Apesar de reconhecer que a turbulência externa atual pode fazer com que investidores internacionais vejam o Brasil de forma diferenciada, um analista de um grande banco estrangeiro destaca que os desdobramentos econômicos no mundo em função do tarifaço americano se darão de forma mais lenta. “Esse é um tema que terá uma repercussão global nos próximos anos. As decisões e declarações podem ser no curto prazo, mas os efeitos na economia vão durar”, avalia.

Na prática, para esse mesmo analista, o modelo do ministro poderá até ser acertado, mas precisará de um tempo que o presidente Lula não tem para mostrar se está correto ou não.

Haddad mantém perspectivas positivas de crescimento para 2025, mesmo com o Banco Central elevando juros para tentar frear a economia e controlar a inflação e com a repercussão negativa da sobretaxa em alguns setores, como aço e alumínio.

Integrantes da equipe econômica reconhecem que a estratégia do governo está desenhada para garantir desenvolvimento no médio e longo prazos. “Estamos plantando políticas industrial e de inovação que são sementes para colher no futuro, é verdade”, diz um interlocutor oficial.

Esse interlocutor argumenta, porém, que é preciso considerar que o país já está vivenciando, no curto prazo, efeitos das mudanças promovidas pelo governo Lula. “A indústria de transformação cresceu 3,8%, acima dos 2% da média mundial. Ganhamos mais de 40 posições no ranking mundial de produção industrial. Tivemos 145% de aumento nos empregos industriais. Isso já estamos vendo acontecer", afirma.

Um ponto positivo para o governo, avaliam técnicos da equipe econômica, é o fato de o Brasil, em meio às atribulações na economia global, seguir mantendo boas relações com seus principais parceiros econômicos, entre eles a China, a União Europeia e mesmo os Estados Unidos. Isso, apostam, deverá garantir exportações num ritmo forte, abertura de novos mercados e, também, parcerias para investimentos.

“O Brasil tem tudo para crescer mesmo com as turbulência geopolíticas”, afirmou Haddad no evento desta segunda. “Se cumprir com esse programa (aumento do consumo das famílias e dos investimentos) vai se desenvolver com sustentabilidade”. Não há garantias, porém, de que os resultados chegarão rapidamente a ponto de o governo colher os frutos daqui até o ano que vem.