As cúpulas do PP e do União Brasil anunciaram nesta terça-feira, 29, a decisão de formar uma federação partidária, com o nome de União Progressista, para atuação política conjunta nos próximos anos. Na largada, o casamento das duas legendas tem o objetivo declarado de fortalecer o campo da direita com setores do centro para chegar em 2026 com um candidato a presidente competitivo, conforme definição do ex-prefeito de Salvador ACM Neto, um dos líderes da agremiação.

Os números impressionam: a União Progressista nasce com 107 deputados, 14 senadores e 5 governadores. Conta, também, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Por ter a maior bancada na Câmara, disporá das maiores fatias do fundo eleitoral, do fundo partidário e de maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

Do ponto de vista político, a junção PP-União Brasil nasce com uma aparente contradição, pois se apresenta com a cabeça na oposição e um pé no governo. Essa é, porém, uma característica típica do Centrão, o conglomerado partidário que se adapta com facilidade aos ocupantes do Palácio do Planalto, sem distinção ideológica. Tem sido assim, quase sem interrupção, desde os primeiros anos da redemocratização.

Até o final do ano, a federação terá no comando o senador Ciro Nogueira (PP-PI), e Antonio Rueda. Presidentes, respectivamente, do PP do União Brasil, os dois fazem parte da oposição ao governo Lula. Ao mesmo tempo, a nova composição tem na Esplanada os ministros André Fufuca (Esporte), do PP; Celso Sabino (Turismo) e Frederico de Siqueira Filho, ambos do União Brasil. E, embora seja filiado ao PDT, Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) foi indicado por Alcolumbre.

A marca oposicionista apareceu com nitidez no manifesto apresentado nesta terça-feira no lançamento da federação em Brasília, com referências a um ajuste fiscal e ao equilíbrio das contas públicas, pontos em que o governo Lula mais recebe críticas. O documento apresenta a União Progressista como uma “bússola” para guiar o rumo do país: “Esta bússola tem um norte claro e definido: responsabilidade fiscal e responsabilidade social. Temos de garantir o equilíbrio das contas públicas para que o equilíbrio e a paz social possam ser assegurados”. Fufuca e Sabino estavam presentes, mas não discursaram.

A presença de oposicionistas e governistas é apenas um dos sintomas das divergências internas da União Progressista. Por exemplo, não houve acordo, na última hora, para o nome do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como presidente da federação e, por isso, o comando foi dividido inicialmente entre os dois partidos.

A candidatura incerta de Caiado
Também não há acordo sobre o candidato a presidente da República. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), quer disputar o Planalto, mas ouviu dos líderes da federação que somente receberá apoio se, na época das convenções partidárias, atingir pelo menos 10% nas pesquisas eleitorais. Uma expressiva parcela da federação prefere trabalhar por uma possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Outro nome cotado é o da senadora Teresa Cristina (PP-MS), ex-ministra no governo Jair Bolsonaro.

Em alguns estados não há consenso sobre o nome a ser lançado para o governo. Caso do Paraná, onde o senador Sergio Moro (União) pretende concorrer, porém, o PP se inclina a apoiar o nome indicado pelo governador Ratinho Jr. (PSD).

A um ano e meio das eleições, ainda é cedo para se saber o rumo que a nova federação vai tomar. Mas, pelo perfil dos grupos que a integram, pode-se prever que chegará dividida em 2026.