Uma voz potente na música e na opinião. Assim era Nana Caymmi, cuja morte foi anunciada nesta quinta-feira, 1º de maio, aos 84 anos. Em uma entrevista ao Roda Viva, em janeiro de 1993, ela explicou por que se chamava de “cantora dos neuróticos”. Era porque os fãs a abordavam sempre dizendo que choraram ao assistirem a seu show. “Não é minha intenção que você vá a um show meu e saia em lágrimas”, disse ela, rindo.
Na entrevista, Nana explicou ao compositor Carlos Rennó o que era cantar bem: “Para que eu saiba que você canta bem ou que não canta bem, eu estou te vendo e não estou te vendo. Estou te olhando e não estou te vendo. Isso é a interpretação. Eu entro dentro da letra”.
Ver essa foto no Instagram
E continuou:
“Primeiro, boa voz. Porque, senão, você está danado. E, segundo, colocação boa de ar. Sensibilidade é a primeira coisa. Não adianta você passar uma coisa que eu vou ficar olhando e comendo batata. É isso.”
A cantora, aliás, reclamava muito de shows em que os garçons circulavam durante a apresentação.

Nana e Dorival Caymmi
Nesta sexta-feira, 2, Gilberto Gil, que foi seu marido em 1967, num breve relacionamento, lembrou no Instagram da vida que teve com ela.
“Quando estivemos juntos, a música nos envolvia de forma muito intensa. Eu começando o meu trabalho. Ela vindo, egressa de uma família com uma presença musical extraordinária, o pai, a mãe, os irmãos”, disse Gil, em vídeo.
Ele completou:
“O violão era sempre uma presença muito constante em nossas vidas. Estava ali, ao pé da cama. Fizemos uma música juntos, uma vez: ‘Bom dia’. Inscrevemos esta música em um festival. Era uma música com uma carga lírica muito significativa. Parecida com ela.”
Alguns anos atrás, na eleição de Bolsonaro, Nana Caymmi chamou Gil e outros companheiros de música de “comunistas” e apoiou o ex-capitão. Na ocasião, Gil diminuiu a tensão dizendo que a cantora era assim, falava o que pensava, e com muita força.