Os frequentadores do restaurante preferido dos cardeais não viram nesta semana a cor vermelha das golas e solidéus do alto clero. Antonello Fulvimari, dono do Al Passetto di Borgo, a 200 metros do Vaticano, sempre se orgulhou de falar da fama do seu estabelecimento: "O conclave é aqui", repetiu ele, em conversa com o PlatôBR.

Embora sem poder reclamar do movimento - afinal de contas, as mesas estiveram cheias de padres, freiras e outros religiosos, que ajudam a fazer a fama do lugar - ele achava que neste período pré-conclave, os cardeais e, quem sabe, o futuro papa, apareceriam para almoçar depois das congregações gerais, que ocorrem todos os dias pela manhã. 

O problema é que o Vaticano virou uma praça de caça a declarações dos votantes e dos candidatos a papa em potencial. Os cardeais preferem evitar aparições públicas e tentam driblar as abordagens. Com isso, o lugar que serve boa comida tradicional italiana, a preço justo, sem ser aquela armadilha para a turista com mesas na rua, serviu às pessoas comuns e membros menos graduados da Igreja.

O dono do restaurante espera que, após o conclave, possa retomar sua tradição de servir papas. Ele mantém a notoriedade do pequeno restaurante mostrando as fotos na parede com o papa Bento XVI, com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano e um dos mais cotados para assumir o posto deixado pelo argentino. "Francisco não vinha aqui, ele era mais discreto", contou.

Quem passa pelo número 60 da Borgo Pio, no bairro de Borgo, que circunda o Vaticano, não imagina que o lugar, fundado pela mãe de Fulvimari em 1962, seja frequentado por cardeais e papas. A fachada terracota, meio descascada, tem duas portas e na parte dentro, as mesas são cobertas com toalhas marrons e beje. O vinho é servido em pequenas jarras ou taças. Branco ou tinto. E os pratos são simples, mas muito autênticos.

As massas são o carro chefe, mas a Saltimboca alla Romana é uma das melhores da redondeza. Joseph Ratzinger era freguês do espaguete a carbonara, feito com guanciale (bochecha de porco curada), ovos e o legítimo pecorino romano. Mesmo depois de virar papa, ele foi ao restaurante, o que rendeu matérias nos jornais que hoje, emolduradas, decoram a parede do estabelecimento.

O cardeal Petro Parolin prefere o rigatoni alla norcina. Entre os acompanhamentos, a alcachofra cozidas com alho, salsa e hortelã, também é muito pedida pelos clientes.