A disposição demonstrada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de aceitar, dentro da negociação sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), as chamadas medidas estruturantes propostas pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), causa apreensão dentro do PT. É que no cardápio apresentado pelo deputado estão propostas rechaçadas pelo partido e que já contaram com a simpatia do ministro no passado. Entre as medidas desejadas por Motta estão a desvinculação dos benefícios previdenciários da política do salário mínimo e, ainda, a desvinculação dos pisos constitucionais de recursos destinados às áreas de saúde e da educação.
Haddad disse ter saído “muito confortável” do encontro que teve com Motta e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), na noite de domingo, 1º. O partido, na via oposta, sentiu desconforto com o rumo das conversas. Dirigentes petistas esperam que, pelo menos, não parta do governo uma proposta que contrarie princípios caros para a sigla.
Dentro do PT, existe a avaliação de que Haddad tem um pensamento econômico divergente do partido. Há também o entendimento de que o arcabouço com meta fiscal zero, defendido pelo ministro, esteja na origem da discussão sobre aumento de imposto. Como contraponto, resta a expectativa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja um freio para as ideias defendidas pela “turma do ministro”, expressão usada por um petista.
“Eu duvido que algumas dessas desvinculações estejam em discussão porque existe o presidente da República e ele (Haddad) certamente só vai apresentar qualquer coisa que tenha sido inteiramente negociada, acordada, autorizada pelo presidente Lula. A gente só pode opinar depois de saber o que é. Vamos aguardar para ver”, disse ao PlatôBR o senador Humberto Costa (PT-PE), atual presidente do partido.
Desvinculação do salário mínimo
Haddad nunca defendeu diretamente a desvinculação dos benefícios do salário mínimo, mas a ideia, de acordo com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, esteve em discussão na equipe econômica, em junho do ano passado. Agora, o debate ocorre no momento em que as principais vozes críticas ao ministro no partido também estão comprometidas com o governo. Uma dessas vozes é a da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), que atua diretamente nas negociações com a função de criar uma relação afável entre o governo, Motta e Alcolumbre.
Nesta segunda-feira, 2, Gleisi convidou Haddad e o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, para o almoço que costuma fazer com os líderes do governo no Senado, na Câmara e no Congresso todo início de semana. O ministro informou que a negociação estava avançando e que a proposta será apresentada nesta terça-feira, 3, antes do embarque do presidente Lula para a França, previsto para a noite. Lula quer viajar com a proposta já submetida para discussão entre os parlamentares.
Entre os pontos informados por Haddad aos líderes estão cortes de isenções fiscais e taxação de criptomoedas e das bets, proposta que enfrenta bastante resistência de partidos no Congresso. Todas as medidas foram levadas para a mesa de negociação na noite desta segunda-feira, 2, antes de serem acertadas com Lula.