O abalo na confiança internacional diante da guerra comercial deflagrada pela gestão de Donald Trump será mais um desafio para a COP30, a conferência climática global que o Brasil sediará em novembro.
O tema-chave desta edição do encontro, marcado para Belém, será justamente a necessidade de se obter mais dinheiro para financiar soluções para o clima, o que exige cooperação entre as grandes potências em torno do tema. Há uma preocupação extra diretamente ligada às chances de êxito da conferência: as discussões se darão num ano marcado por total descoordenação global e tensões elevadas, sobretudo entre Estados Unidos e China.
Depois da frustração na COP20, em Baku, no Azerbaijão, que definiu um patamar de financiamento dos países desenvolvidos bem abaixo da demanda (US$ 300 bilhões anuais ante US$ 1,3 trilhão), a secretária de mudança do clima e CEO da COP30, Ana Toni (foto), defende a necessidade de se buscar uma estratégia de financiamento com governos, setor privado e bancos multilaterais.
“Está sendo feito um relatório com ministros das finanças e os bancos multilaterais para mostrar o caminho para mobilização de US$ 1,3 trilhão”, disse ela em evento do setor da indústria de base realizado na semana passada em Brasília.
“A questão do clima é uma questão de dinheiro”, afirma Luciana Costa, diretora de infraestrutura e mudança climática do BNDES, ressaltando que a COP no Brasil é relevante para defesa do multilateralismo e de um modelo global de governança que coloque o planeta na rota da descarbonização.
Para a executiva, a questão climática tem que estar na estratégia das empresas. Ela diz que investir num negócio intensivo em carbono atualmente é um risco porque esse negócio pode não existir amanhã.
Há expectativa de que a COP30 abra espaço para avançar nos debates para além da transição energética, ampliando o escopo e incluindo, por exemplo, as chamadas SBNs, sigla para Soluções Baseadas na Natureza – ações sustentáveis que restauram ecossistemas para gerar benefícios ambientais, sociais e econômicos. “Temos que avançar para outras áreas que têm recebido pouca atenção do setor financeiro”, diz Ana Toni.
A falta de consenso sobre a redução do uso de combustíveis fósseis se arrasta desde a COP28 e a partir da posse de Donald Trump só piorou. A pressão é para que a COP30 no Brasil estabeleça metas mais ambiciosas.