Quando estava na Espanha, dez anos atrás, o músico Silvio Vahid Tavares, 47, conheceu dois colegas iranianos e ficou ainda mais apaixonado pela língua que eles falavam. Começou a estudar por conta própria. Sua mãe, a socióloga Neda Mohtadi, falava farsi, aprendido de seus pais. Mas não sabia ler ou escrever no idioma.

Silvio levou dez anos se preparando para a grande viagem ao Irã, onde esperava aprender academicamente a língua persa na universidade. Só para conseguir o visto, foram dois anos. Mas ele superou a espera e chegou a Teerã dez dias antes dos primeiros bombardeios ao Irã. Começou a cursar a universidade e a conhecer a milenar capital do Irã até que, numa madrugada, foi acordado por um telefonema de sua mãe, aflita com a notícia dos primeiros mísseis disparados por Israel.

“Ele nem sabia o que estava acontecendo e eu só queria me certificar de que ele estava bem. Uma coisa que me tranquilizava era que ele estava no alojamento da Universidade de Teerã, mas os bombardeios e os riscos aumentaram”, contou ela em entrevista à coluna.

Assustado com o recrudescimento dos ataques, Silvio ligou para a Embaixada do Brasil em Teerã e foi aconselhado a seguir para aquela área diplomática, onde era mais seguro se instalar. O músico está desde o dia 16 na embaixada. Com ele, segue um outro brasileiro, com a mesma orientação de não deixar o local. Trata-se do técnico de handebol de areia Antonio Guerra Peixe, que chegou ao Irã em abril para treinar o time local.

Como fala o farsi e domina o inglês, Silvio tem ajudado os funcionários da embaixada a contatar outras famílias que tenham brasileiros para organizar um retorno ao Brasil. De Curitiba, Neda segue cada notícia com apreensão. Primeiro, teve a esperança de encontrar logo o filho, quando a embaixada planejou uma saída pelo Azerbaijão. A ideia foi descartada.

Silvio Tavares

Os brasileiros têm eletricidade, água e alimentos na embaixada. Mas a comunicação é frágil. O serviço de internet foi cortado e algumas vezes é difícil até falar por telefone.

A coluna procurou o Itamaraty, que informou estar avaliando as condições de segurança no Irã e em Israel para realizar o retorno dos brasileiros. Nenhuma operação é informada por questões de segurança. Não foi divulgada também nenhuma estimativa de quantas pessoas precisam da remoção dessas áreas de risco.

Na semana passada, o Itamaraty, por meio das embaixadas, fez duas remoções de autoridades municipais brasileiras que participavam de um evento sobre segurança e tecnologia em Israel, a convite daquele governo. Mas ainda não houve resgate dos que estão no Irã.

“Ainda bem que temos um governo progressista e que o presidente Lula tem boas relações com o Irã. Acho que isso ajuda”, disse a socióloga, que afirmou que o filho tem sido bem tratado na embaixada, mas que o temor é muito grande.

A mãe de Silvio diz que sabe que é difícil fazer a extração dos brasileiros, mas que a situação é de emergência. “É que a gente a gente não sabe o desenrolar disso e se não vai ficar mais difícil a saída deles de Teerã.”

A socióloga pediu pressa e fez um apelo ao Itamaraty:
“Tragam o meu filho, os nossos filhos, em segurança.”