Alvo de ataques em série de apoiadores do governo nas redes após a derrubada do decreto do IOF, Hugo Motta decidiu que, ao menos publicamente, não seguirá esticando a corda com o governo nestes dias em que participa, em Lisboa, do fórum promovido pelo ministro Gilmar Mendes.
Nesta quarta, 2, o presidente da Câmara disse a aliados que quer evitar novas declarações públicas sobre a crise entre o Planalto e a cúpula do Congresso. Nos bastidores dos encontros na capital portuguesa, porém, não se fala de outra coisa.
Como boa parte do poder atravessou o oceano para o encontro anual organizado por Gilmar, que conta também com a presença de personalidades graúdas do PIB nacional e do mercado ávidas por saber os próximos capítulos da confusão, o tema tem sido recorrente.
Entre palestras sobre regras constitucionais no Brasil e em Portugal, regulação de plataformas digitais e futuro da inteligência artificial, o quadro político brasileiro é um dos assuntos dominantes nas conversas – ainda mais nos eventos paralelos à programação oficial, repletos de políticos.
Motta decidiu silenciar por enquanto para não ampliar a crise, mas há um porém em seu plano: a depender dos próximos movimentos de Brasília, ele pode voltar atrás. Na terça, 1º, ao participar de um evento do Esfera Brasil, o presidente da Câmara disse que a harmonia entre os poderes, pregada pela Constituição, não obriga um dos lados a concordar com tudo o que o outro faz.
Embora não queira aumentar a tensão, o deputado anda bastante irritado com o Planalto. Tem reclamado, por exemplo, do discurso do presidente Lula e do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de que ele teria quebrado um acordo firmado em torno do decreto do IOF – o deputado diz que nunca se comprometeu a levar a proposta governista adiante. Mas não é só isso. A irritação de Motta é ainda maior com a aparente ação coordenada de apoiadores do governo contra ele, inclusive com ataques pessoais.