O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou suas redes sociais para ameaçar sobretaxar os países alinhados ao Brics, grupo liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com isso, o republicano deu ao encontro de cúpula, que ocorre no domingo, 6, e nesta segunda-feira, 7, no Rio de Janeiro, uma dimensão na qual nem os países-membros apostavam.

A reunião está esvaziada, sem a presença dos presidentes Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, os dois pesos pesados do grupo que articula uma política de cooperação baseada no multilateralismo, mais independente de Washington. Trump, ao comentar o encontro no Rio de Janeiro, ameaçou, por meio das redes sociais, taxar em mais 10% as exportações de qualquer país que se associar ao grupo.

O comentário de Trump foi feito na noite deste domingo, 6, após o primeiro dia de reunião dos chefes de Estado, por meio das redes sociais. Ele classificou as políticas discutidas pelos países do grupo de “antiamericanas” e avisou que “não haverá exceção a essa regra”.

A ameaça de Trump gerou reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que considerou equivocada a postura do norte-americano. “Eu sinceramente nem deveria comentar porque não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. A gente precisa saber que o mundo mudou. Nós não temos imperador, nós somos países soberanos. Se ele achar que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade”, disse Lula em coletiva de imprensa após a reunião.

“As pessoas têm que entender que respeito é bom, respeito é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber. E é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz”, disse Lula, no Rio de Janeiro.

Declaração conjunta
A questão do “aumento indiscriminado de tarifas” foi um dos assuntos abordados na declaração conjunta resultante da cúpula. Os países apontaram o tarifaço como uma ameaça ao comércio global. A citação não faz referência direta ao presidente dos Estados Unidos, mas insere na parte que trata da defesa do multilateralismo a rejeição às ações unilaterais.

“Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”, diz o texto assinado por todos os países presentes. Nesse mesmo capítulo, o grupo defendeu o fortalecimento de instituições multilaterais, como a ONU, e o respeito ao direito internacional.

O documento foi o primeiro assinado pela nova formação do bloco, com a adesão de cinco novos países. O grupo atualmente é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Além deles, há também outros convidados que representam nações parceiras como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.