Assim como diversos petistas, o novo presidente do PT, Edinho Silva, livrou-se nos últimos anos de uma série de investigações e ações na Justiça decorrentes da Operação Lava Jato e suas delações — no caso dele, UTC, JBS e Odebrecht. Edinho foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014, cargo de alto risco nos tempos da Lava Jato, que lhe rendeu menções por delatores.

Apesar das vitórias na Justiça, uma investigação segue aberta contra o presidente do PT e acaba de “subir” ao STF a partir de uma decisão da Justiça Eleitoral do Distrito Federal.

A coluna teve acesso aos autos da investigação, sigilosa, que também inclui Dilma. O inquérito, aberto em 2020, trata de uma suposta doação de R$ 700 mil em caixa dois feita à campanha da ex-presidente em 2014 pela antiga Hypermarcas, rebatizada como Hypera.

Em relatos que até agora não tinham vindo à tona, delatores da empresa afirmaram que a companhia combinou com Edinho um total de R$ 10 milhões em doações em 2014, dos quais R$ 9,3 milhões teriam sido feitos oficialmente, divididos entre a campanha de Dilma (R$ 5 milhões), o diretório nacional do PT (R$ 1,6 milhão) e o PT em Minas Gerais (R$ 2,7 milhões). Os R$ 700 mil restantes teriam sido pagos pela companhia em supostos contratos fictícios com duas empresas, a Iso Expert Internacional e a D2P Consultoria e Assessoria e Negócios.

O inquérito cita delações de João Alves de Queiroz Filho, fundador da Hypermarcas; Cláudio Bergamo dos Santos, ex-CEO da empresa; Nelson Mello, ex-diretor de relações institucionais; e Carlos Roberto Scorsi, ex-diretor de operações.

Ouvida pela investigação em outubro de 2021, sete anos depois da campanha que a reelegeu em 2014, Dilma disse que não acompanhava em detalhes as doações em meio às agendas de candidata e reiterou ter “total confiança” em Edinho Silva. 

O inquérito tramitou junto à Justiça Eleitoral de Brasília até o último dia 2 de julho. Nessa data, o juiz eleitoral das garantias Jayder Ramos de Araújo atendeu a uma manifestação do Ministério Público Eleitoral e mandou a investigação para o STF. A investigação chegou ao Supremo nesta segunda-feira, 7, mesmo dia em que Edinho foi declarado vencedor da eleição no PT.

A justificativa do juiz foi a nova interpretação da Corte sobre o foro privilegiado. A prerrogativa segue valendo mesmo após autoridades deixarem o cargo, em casos que envolvam crimes cometidos durante o exercício da função e em razão da função. Assim, o foro de Dilma devolveu o caso ao Supremo.

“No caso em análise, a investigação envolve a suposta prática de atos criminosos por Dilma Rousseff que, à época, exercia o cargo de Presidente da República. Alega-se a utilização de recursos não contabilizados (“caixa dois”) no financiamento de sua campanha eleitoral nas eleições gerais de 2014. As condutas reputadas ilícitas estão diretamente relacionadas ao exercício do respectivo cargo. Tal circunstância indica uma conexão entre os fatos apurados e o desempenho da função pública, atraindo a competência do Supremo Tribunal Federal”, decidiu o juiz.

(Atualização, às 7h30 de 8 de julho de 2025: após a publicação desta reportagem, a advogada de Edinho Silva, Maíra Salomi, enviou a seguinte nota. “A defesa de Edinho Silva registra que todas as investigações mencionadas que apuraram a sua conduta como coordenador financeiro da campanha presidencial de 2014 foram devidamente arquivadas com relação a ele, o que deve ocorrer com o inquérito policial mencionado. Após anos de apuração, nenhuma delas resultou em qualquer acusação. Durante a campanha, todos os processos de arrecadação de recursos e contratação de serviços foram conduzidos com transparência, submetidos à auditoria interna e à fiscalização externa. As contas foram aprovadas por duas vezes pelo TSE, sem qualquer indício de irregularidade. Edinho segue sua atuação na vida pública e política sem qualquer processo criminal instaurado contra si.”)