O anúncio de tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros mobilizou possíveis presidenciáveis de diferentes espectros políticos. Enquanto nomes ligados à oposição culpam o governo Lula por suposta ideologização nas relações exteriores, integrantes da base rebatem com críticas ao bolsonarismo e ao presidente Donald Trump.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), sugeriu a criação de uma comissão mista do Congresso — com deputados e senadores — para negociar diretamente com os Estados Unidos. Crítico do Planalto, afirmou que Lula “segue à risca” a cartilha de Hugo Chávez e “não representa o sentimento patriótico do povo brasileiro”.
Também oposicionista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), minimizou o impacto da medida, alegando que os efeitos sobre a economia paulista seriam “zero”. Dias depois, mudou o tom e reconheceu que haverá prejuízos para a indústria e o agronegócio do estado. Em entrevista, responsabilizou o governo federal, acusando-o de “colocar ideologia acima da economia”.
Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) fez um discurso em duas frentes. Reiterou que “empresas e trabalhadores brasileiros vão pagar a conta” pelos gestos e polarização que seriam promovidos por Lula e pelo STF (Supremos Tribunal Federal), mas considerou a decisão de Trump “errada e injusta”, dizendo que “esses erros e essas injustiças não devem ser consertados com mais injustiça e erro” .
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), adotou um tom mais moderado. Disse que o Brasil não pode aceitar interferência externa em suas instituições e defendeu que o governo federal adote uma postura pragmática e diplomática para resolver o impasse. Ele também criticou os efeitos da polarização política e alertou para o impacto econômico da medida em setores estratégicos do estado, como tabaco, madeira e celulose.
Eduardo Bolsonaro (PL‑SP) reforçou o discurso ideológico. Em publicação nas redes sociais, defendeu uma “anistia ampla, geral e irrestrita” para o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e atribuiu o tarifaço a uma retaliação ao STF. O deputado também agradeceu a Donald Trump pelas medidas.
Do lado do governo, Lula optou pelo confronto direto com a família Bolsonaro. Em entrevistas e discursos, o petista defendeu a soberania nacional acusou o antecessor e o filho Eduardo pelas medidas tomadas pelos americanos. Ele também criticou a carta de Trump pelos erros de informações, principalmente por dizer que os Estados Unidos seriam deficitários no fluxo comercial com o Brasil. Se as negociações não avançarem, disse o presidente, o governo vai usar a Lei da Reciprocidade. “Taxou aqui, a gente taxa lá. Realmente, essas pessoas não sabem o que é o respeito que nós temos pelo nosso país. Essa gente não sabe que nós não somos um povo qualquer”, criticou o petista.
Na mesma linha, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), responsabilizou o bolsonarismo pela crise. Ele afirmou que há uma articulação para “sabotar” o Brasil no exterior e chamou Tarcísio de “candidato a vassalo”. Segundo o ministro, o governador paulista cometeu um “enorme tiro no pé” ao alinhar sua política externa ao trumpismo.
O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), não havia se manifestado publicamente sobre o tema até o fechamento deste texto.
O retrato dos pré-candidatos diante da crise
As reações dos presidenciáveis ao tarifaço de Trump escancara, segundo o professor de história e relações internacionais Marçal Paredes, da PUCRS, uma subordinação preocupante da política externa brasileira aos cálculos eleitorais. Para ele, a maioria dos pré-candidatos optou por “colocar a agenda de seus supostos líderes políticos na frente do interesse nacional”. Em vez de defender a soberania do Brasil no cenário internacional, muitos preferiram manter o tom antipetista ou surfar em ataques ao Supremo Tribunal Federal, mesmo diante de um gesto que fere diretamente a autonomia comercial do país.
A crise provocada por Trump, diz o professor, deveria ser uma oportunidade para uma resposta unificada em defesa do país, inclusive do agronegócio, que pode ser diretamente afetado. Ao contrário disso, a omissão ou o oportunismo de parte dos pré-candidatos apenas reforça o cenário de degradação institucional. As críticas do professor são direcionadas, principalmente, para s oposição. “Está caindo a máscara daqueles que se diziam patriotas”, diz Paredes. “Quem já levantou a bandeira verde e amarela deveria ser o primeiro a condenar uma agressão externa. Mas preferem apostar no ganho fácil das redes sociais.”