O anúncio de Donald Trump sobre a tarifa de 50% contra produtos brasileiros reacendeu a polarização política nas redes e transformou a questão tributária em mais um campo de disputa entre bolsonaristas e governistas. As medidas do governo americano, comunicadas em carta enviada ao presidente Lula, dominaram o debate político nacional nos últimos dias.
Segundo levantamento da consultoria Bites, feito a pedido do PlatôBR, o volume de menções a temas tributários bateu quase 2 milhões de postagens na quinta feira, 10, um dia depois da divulgação das medidas do governo americano, com um crescimento acelerado puxado principalmente por perfis ligados à oposição. No mesmo dia, o engajamento com essas publicações explodiu e passou de 25 milhões de interações, consolidando a liderança oposicionista nas iniciativas digitais.
O estudo levou em consideração apenas o fluxo de postagens e engajamentos, sem entrar em detalhes sobre o conteúdo das interações. A mobilização dos adversários do Planalto foi rápida e teve como principais personagens os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel Van Hattem (Novo-RS), o senador Eduardo Girão (Novo-CE), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a família Bolsonaro. Eles propagaram a versão de que o presidente Lula seria o responsável pelo tarifaço. A retórica atribuiu a Lula o enfraquecimento das relações internacionais do Brasil com os Estados Unidos e, por consequência, o prejuízo dos exportadores do país.
O governo respondeu em um tom diferente do habitual. Além do próprio presidente, que se posicionou contra a medida de Trump, a reação pró-governo ganhou tração por vias não tradicionais. Influenciadores progressistas e perfis pop e de entretenimento, como o Alfinetei e Gil do Vigor, viralizaram ao ironizar os bolsonaristas e defender a diplomacia brasileira. Deputados do PSol, Guilherme Boulos e Érika Hilton também entraram na linha de frente da defesa do Planalto.
Apesar da força dessa reação, os números mostram que a oposição venceu a batalha digital nos dias seguintes ao anúncio: na quinta, 10 de julho, os oposicionistas concentraram mais que o dobro das menções em relação aos governistas (829 mil contra 311 mil), e também lideraram no engajamento (9,2 milhões contra 3,3 milhões).
A taxação de Trump ainda levanta dúvidas sobre seus efeitos práticos, mas no Brasil já cumpriu um papel claro: acirrar a polarização e alimentar narrativas para quem vê na crise internacional mais uma chance de marcar posição.