O presidente Lula escalou o vice Geraldo Alckmin para coordenar o comitê criado pelo governo para negociar soluções para os exportadores prejudicados pela taxação de 50% imposta por Donald Trump a produtos brasileiros. A escolha do vice para a missão dá uma medida da importância dessa crise enfrentada pelo Brasil por causa das medidas tomadas pela Casa Branca. Pelas dificuldades das negociações, essa é uma tarefa espinhosa delegada pelo petista ao número 2 do Poder Executivo.
Lula e Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, demonstram notável sintonia nos assuntos de governo. O vice nunca discorda publicamente do presidente e atua sempre de acordo com as orientações do parceiro de chapa de 2022. Na prática, Alckmin age como uma extensão de Lula nos trabalhos que executa.
Nesta segunda-feira, 15, o governo confirmou a criação do comitê, que vai buscar saídas para os exportadores prejudicados por Trump. Participam do grupo os seguintes ministérios: Casa Civil, Fazenda, Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Relações Exteriores. Alckmin já estava à frente das tratativas com o governo americano iniciada desde que Trump fez os primeiros movimentos relacionados a taxações de produtos brasileiros e também vai coordenar o comitê.
Em entrevista, o vice-presidente disse que o objetivo é dialogar com o setor privado e buscar também articulação junto a entidades empresariais norte-americanas. Ele classificou as tarifas como “totalmente inadequadas” e defendeu que o empresariado brasileiro se mobilize para pressionar Washington.
Os primeiros encontros acontecem nesta terça-feira em dois blocos. Pela manhã, a reunião será com setores industriais mais expostos ao comércio exterior com os Estados Unidos, como aço, alumínio, calçados, móveis e autopeças. À tarde, as conversas serão com representantes do agronegócio, incluindo produtores de carne, frutas, couro, pescados e mel. Além dos quatro ministros que integram o comitê, o governo convidou outros integrantes da Esplanada para reforçar o movimento.
A estratégia do Planalto inclui também conversas com empresas e entidades americanas, numa tentativa de mostrar que o tarifaço pode prejudicar não apenas exportadores brasileiros, mas também fabricantes dos EUA, que dependem de insumos importados para manter cadeias produtivas. “Temos integração produtiva. Vendemos aço, autopeças, motores para os EUA e eles reprocessam esses produtos. Empresas americanas também vão ser atingidas”, disse Alckmin, ao citar diálogos já em curso com o USTR — o representante comercial dos EUA — e entidades empresariais.
O governo aposta no reforço da narrativa de que o Brasil não tem superávit comercial com os Estados Unidos e que, portanto, o tarifaço é injustificável. A expectativa do Palácio do Planalto é que a pressão coordenada entre Brasília, o setor privado brasileiro e empresas americanas consiga ao menos adiar ou reduzir o impacto das medidas.