Na ânsia de mostrar influência no governo Donald Trump, Eduardo Bolsonaro acabou puxando para si não só a crítica dos setores produtivos, mas a atenção redobrada do STF e dos parlamentares governistas. 

Em entrevista ao Estadão nesta segunda-feira, 14, Eduardo disse pensar seriamente em renunciar ao mandato. Tem de correr contra o tempo, já que sua licença na Câmara termina em 20 de julho. Além do mais, o deputado autoexilado está cercado pelo PT e partidos de esquerda, que pedem formalmente sua cassação. Neste final de semana, o PT apresentou representações no STF para que ele seja investigado e cassado por agir na contramão dos interesses do país. Eduardo já é alvo de um inquérito no Supremo por supostamente articular nos Estados Unidos uma obstrução à Justiça no processo contra seu pai pela tentativa de golpe.

Caso perca o mandato por meio de uma cassação, o filho de Jair Bolsonaro perde o direito de concorrer às eleições em 2026. Renunciando ao cargo, pode se garantir na disputa do ano que vem e fica livre para seguir maquinando com a Casa Branca de Trump retaliações ao Brasil e ao STF. 

Eduardo Bolsonaro até pode tentar justificar uma eventual renúncia com a narrativa da perseguição política — tese que certamente encontrará eco em boa parte do seu eleitorado. O fato, no entanto, é que, desde o início do ano, o parlamentar jogou fora os cerca de 741 mil votos que recebeu de eleitores paulistas em 2022. Não é pouca coisa considerando que São Paulo será justamente o estado que mais vai sofrer economicamente com a sanção imposta por Trump sobre as importações do Brasil.

Para Jair Bolsonaro, a questão que começa a se impor mais dramaticamente é quem será o herdeiro de seu legado nas urnas em 2026. Já inelegível e com uma condenação muito previsível no STF,  Bolsonaro vê um de seus possíveis candidatos, Eduardo, dando de ombros para os efeitos econômicos do tarifaço de Trump — um grande passivo eleitoral a se explicar. Fora os enroscos judiciais decorrentes de sua atuação nos EUA. 

Apesar de se esforçar para ficar com o espólio do ex-chefe, Tarcísio de Freitas não convence o bolsonarismo, que gostaria de ver uma submissão canina do governador ao ex-presidente. Restam ainda dois nomes: o de Michelle Bolsonaro, que tem sido fortalecida com as pesquisas de intenção de voto, e o de Flávio Bolsonaro.