À medida que se amplia a frente formada por empresários e pelo governo para tentar derrubar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros imposta pelos Estados Unidos, os riscos dos impactos econômicos da medida contaminam a política e diminuem a força do grupo que apoia ex-presidente Jair Bolsonaro. “De um ativo político, ele está se transformando em um passivo tóxico”, avalia o executivo de um grande grupo financeiro alinhado com a centro-direita no Brasil, referindo-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A análise é que a estratégia de sacrificar o país para tentar se salvar articulada pela família Bolsonaro foi um erro “difícil de reverter” que afetou, também, a situação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nos últimos meses, o governador vinha surfando com a queda de popularidade do governo Lula e flertando com a possibilidade de concorrer à Presidência da República em 2026. Na última semana, ao defender, inicialmente, a medida protecionista americana, Tarcísio assistiu a uma parcela do empresariado que o apoiava questionar seu posicionamento político.
“Melhor ele não arriscar uma eleição garantida para governador de São Paulo com esse quadro”, afirma o executivo. “E o Tarcísio desistindo de concorrer contra Lula, aí que o capital político do bolsonarismo vai para zero”, acrescenta.
Tarcísio conta com apoio do mercado financeiro paulista insatisfeito, sobretudo, com a política fiscal do governo Lula-3 e vinha avançando também no setor produtivo. O desgaste do governo Lula com as medidas de aumento do IOF era favorável ao projeto político do governador.
Mas o vento mudou com o anúncio de Trump contra a economia brasileira. Com o potencial bem mais devastador para os empresários do que a elevação do IOF, o tarifaço americano gerou uma oportunidade para o governo tentar se reaproximar de parte do empresariado. O debate sobre aumento do imposto ficou em segundo plano e segue na interlocução do governo com o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso.
Enquanto isso, entrou em cena o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), com trânsito no setor produtivo, especialmente, o paulista. Nesta terça-feira, 15, ele reafirmou o protagonismo numa reunião com pesos pesados da indústria. Ao lado de Alckmin, o presidente Ricardo Alban (Confederação Nacional das Indústrias) enfatizou que todos presentes no encontro, na sede do ministério em Brasília, estão “uníssonos e convergentes na busca de solução” para o que ele destacou como “um perde-perde” que não faz nenhum sentido.
Tarcísio em voo solo?
“Daqui a uns três meses, ninguém deve mais estar falando sobre esse tarifaço, o problema é que ficou uma marca bolsonarista. Com isso, Tarcísio tem que partir para um voo solo”, avalia um empresário simpático à candidatura do governador de São Paulo para o Planalto. “No meio empresarial, ninguém acredita que os filhos do Bolsonaro possam ser competitivos. Os nomes são Tarcísio, Ratinho Jr e Caiado”, avalia.
Para ele, o problema da candidatura à presidência é como resolver a questão do governo de São Paulo, já que não há um nome que possar unir o empresariado. Nesse caso, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) seria um nome forte que poderia desequilibrar a disputa pelo Palácio do Planalto. “Mas é fato que qualquer candidato de centro-direita que não for radical ganha a eleição”, defende.