Em despacho na última quinta-feira, 7, Cármen Lúcia deu quinze dias para que o senador bolsonarista Jorge Seif, do PL de Santa Catarina, explique-se sobre ataques que fez à jornalista Miriam Leitão no Senado, em março.

Na ocasião, ao defender uma anistia aos golpistas do 8 de Janeiro, Seif afirmou que Miriam havia sido anistiada durante a ditadura. Ele também citou a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado Fernando Gabeira e o guerrilheiro Carlos Marighella.

Ocorre que Miriam Leitão nunca foi anistiada, porque não cometeu nenhum crime. Em 1972, integrante do movimento estudantil no Espírito Santo e então grávida do primeiro filho, a jornalista passou três meses presa num quartel do Exército em Vila Velha (ES), onde foi torturada.

Miriam levou tapas, chutes e teve que ficar nua dentro de um auditório diante de soldados. Ela também foi trancada, nua, dentro de uma sala escura com uma jiboia. Foi ameaçada de estupro coletivo por três torturadores.

A jornalista foi acusada de pichação, participar de reuniões e distribuir panfletos contra a ditadura, mas nunca de ações armadas. Em 1974, cinco anos antes da Lei da Anistia, Miriam foi julgada e absolvida pelo Superior Tribunal Militar (STM).

Diante das declarações do bolsonarista, a defesa da jornalista viu possíveis crimes de calúnia e difamação e o interpelou junto ao STF para que ele explique os ataques que fez. Este é o primeiro passo para um futuro processo contra o parlamentar.

A ação afirmou que Jorge Seif recorreu “à mentira e à distorção dos fatos” para criar uma falsa equivalência entre a jornalista e os bolsonaristas golpistas.

“Tal manobra tem o claro intuito de deslegitimar a imagem da jornalista e de criar uma narrativa falaciosa que tenta justificar uma agenda política, desprezando o impacto e a gravidade de suas palavras sobre a honra e a reputação da profissional”, afirmou a interpelação.

Após parecer da PGR, Cármen Lúcia mandou Seif apresentar explicações em quinze dias.