Uma semana após o 8 de Janeiro e a quebradeira generalizada na Praça dos Três Poderes, em Brasília, um computador recolhido em uma espécie de sala secreta na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República foi entregue à Polícia Federal. O equipamento levado pela equipe de segurança de Lula seria o único computador da Secom deixado pela equipe de Jair Bolsonaro para trás sem que sua memória fosse formatada (processo de limpeza de arquivos). As suspeitas eram de que os quatro discos internos de memória guardassem provas do funcionamento da “milícia digital” e do “gabinete do ódio”, investigados desde 2019 no STF.
Com as cenas de vandalismo no Congresso, no STF e no Planalto ainda quentes na memória dos brasileiros, o computador modelo Macintosh, da Apple, virou notícia rapidamente. Supostamente usado por assessores de Bolsonaro para produzir falsas notícias e espalhar na internet de dentro do Planalto, o terminal foi recolhido por um servidor da equipe de transição, que relatou à PF ter ouvido “ruídos” de que sua localização preocupava “determinadas pessoas”, sem apontar nomes.
O computador foi tratado como “prova-bomba” por integrantes do governo Lula. Na lista de investigações judiciais contra Bolsonaro e aliados abertas nos últimos cinco anos no STF por determinação do ministro Alexandre de Moraes, a forma e o local de localização da prova reforçou ainda mais as suspeitas. O aparelho foi encontrado em uma sala que tinha um acesso “bem restrito”, onde “nem as copeiras entravam”, declarou o servidor ouvido pela PF. O fato potencializou a curiosidade e as expectativas sobre o conteúdo guardado nos quatro discos internos de memória, com alguns terabytes de dados.
Nos tribunais, o Mac da Secom também gerou embates. A ordem para vasculhar o computador, dada por Moraes em março de 2023, foi contestada pela PGR (Procuradoria Geral da República) um mês depois. O órgão pediu a nulidade da apuração e da análise dos arquivos. Fora dos holofotes, os peritos e analistas da PF buscaram senhas para destravar o computador – que é patrimônio da União – e suas conclusões ficaram paradas por pelo menos um ano. Assim, o caso que começou envolto em polêmicas, debates jurídicos e apontamentos de excesso feitos pelas defesas contra o relator perdeu o brilho e sumiu do noticiário.
No início deste mês, o delegado da Polícia Federal Fábio Shor deu por encerrada a apuração. Em comunicado lacônico enviado a Moraes nesta segunda-feira, 11, a PF informou que nada de relevante foi identificado e que os arquivos contidos no computador não tinham qualquer relação com o “objeto de investigação” sobre milícias digitais em andamento na corte. Nesta terça-feira, 12, a PGR – que havia indicado desde o início a falta de interesse no material – recebeu de Moraes o aviso de conclusão da apuração.