O líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), rebateu a denúncia encaminhada à corregedoria da Câmara contra ele e outros 13 parlamentares com o argumento de que o processo é “fraudulento”. Em entrevista ao PlatôBR, ele disse não acreditar em punição. Argumenta que a acusação faz parte de uma perseguição política orquestrada pelo Poder Judiciário, que atuaria “em regime de ditadura” contra os adversários do Planalto.
Na avaliação de Zucco, a denúncia se refere a uma reação legítima diante do que chama de “escalada autoritária” no país. O líder voltou a sustentar que o 8 de Janeiro foi uma farsa e atribuiu ao ministro Alexandre de Moraes o comando de um “gabinete paralelo” no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para perseguir opositores. Para o deputado, o caso revela a articulação de um aparato de retaliação contra parlamentares que se posicionam contra o governo.
O deputado também defendeu a ocupação da mesa diretora, que motivou a denúncia. Alegou que agiu amparado pelo direito constitucional de manifestação e seguindo o dever da minoria parlamentar de reagir a ameaças às liberdades. Ele comparou a ação a atos promovidos por parlamentares de esquerda em anos anteriores e acusou o líder do PT, Lindbergh Farias, de hipocrisia ao condenar o episódio.
Deputado, o senhor foi um dos 14 denunciados à corregedoria. Como avalia essa denúncia?
Trata-se de mais um capítulo de uma perseguição política orquestrada contra a oposição. Não foi uma ação isolada ou sem contexto. Foi uma reação legítima diante da escalada autoritária que o Brasil vive, já sob um regime de ditadura judicial. As denúncias gravíssimas reveladas pela série Vaza Toga (acusações de direcionamento político de apurações conduzidas por Moraes) mostraram a existência de um gabinete paralelo no TSE, comandado pelo ministro Alexandre de Moraes, para perseguir e silenciar opositores. E, no mesmo dia em que isso veio à tona, Moraes determinou a prisão arbitrária do ex-presidente Jair Bolsonaro. O 8 de Janeiro é uma farsa, assim como essa denúncia, um processo fraudulento baseado na narrativa de um golpe que nunca existiu.
Qual sua justificativa para a conduta que motivou a denúncia? Considera que agiu dentro das regras da Câmara?
A conduta foi amparada pelo direito constitucional de manifestação e pelo dever da minoria parlamentar de reagir em momentos de grave ameaça às liberdades. A ocupação foi um grito de alerta à sociedade e ao mundo sobre as violações de direitos humanos e a destruição do Estado de Direito no Brasil. A história está repleta de ações semelhantes, inclusive da esquerda, que já ocupou mesas diretoras da Câmara e do Senado em diversas ocasiões e sempre foi tratada como legítima. O líder do PT, Lindbergh Farias, está se portando como um agente da ditadura de toga, um leva e traz do Judiciário. Aliás, ele mesmo, ao lado de sua companheira, Gleisi Hoffmann, protagonizaram a ocupação da Mesa Diretora do Senado. É muita hipocrisia.
A corregedoria pode punir o senhor e seus colegas. O senhor acredita que será punido? Se sim, acha que essa punição seria justa?
Não acredito numa punição. Estou convencido de que não cometemos irregularidades. A corregedoria da Casa vai analisar tudo com muito critério. Justo é investigar e punir abusos de poder e violações constitucionais como as praticadas por Moraes, não retaliar parlamentares por exercerem seu papel de oposição.
O que o senhor responde a quem diz que vocês atrapalham o funcionamento da Casa?
Quem realmente atrapalha o funcionamento da Casa é quem censura, intimida e persegue parlamentares no exercício do mandato. O que fizemos foi uma reação legítima, proporcional à gravidade do momento, para impedir que se normalizem práticas autoritárias.
O senhor e os demais denunciados do seu partido têm alguma estratégia de defesa conjunta? Como está o clima dentro da bancada?
A oposição está mais unida do que nunca. Nas próximas semanas, entregaremos uma carta às embaixadas denunciando as violações e crimes praticados por Alexandre de Moraes, que já está sancionado pela Lei Magnitsky, instrumento internacional aplicado aos piores violadores de direitos humanos do planeta. É uma pauta de defesa coletiva da democracia.
O senhor acredita que esse episódio pode abalar sua imagem diante dos eleitores? O senhor está preocupado com isso?
De forma alguma. Quem está com a imagem arruinada é o Judiciário brasileiro e o governo, que hoje são vistos internacionalmente como protagonistas de um regime autoritário. Nossa base entende que estamos lutando pela liberdade e pela verdade.
Se o episódio se repetisse o senhor agiria da mesma maneira? Ou diferente?
O ontem já é passado. Tenho certeza que as próximas gerações de representantes do povo vão lembrar e se inspirar em nossa luta. Quando a democracia está em risco, a omissão é cumplicidade. Seguiremos usando todos os instrumentos legítimos e democráticos para denunciar e resistir a esse Estado de exceção.
Que lições o senhor tirar dessa denúncia? Pretende mudar algo na sua postura política para evitar novos episódios assim?
A principal lição é que não podemos recuar diante de um Judiciário que se transformou em instrumento de perseguição política. Não mudarei minha postura. Pelo contrário, vou intensificar a luta pela anistia, pelo fim do foro privilegiado e pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes. A oposição seguirá usando todos os mecanismos democráticos para expor ao mundo o que estamos vivendo no Brasil.