O Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal tinham, há tempos, indícios fortes da participação central de Walter Braga Netto nas várias tramas que envolveram a tentativa de golpe de Estado no Brasil entre 2022 e 2023.
À diferença do que ocorreu com outros investigados, porém, havia certo temor em avançar de forma mais incisiva contra o general. Por várias vezes desde o início das investigações, chegou a ser cogitada e discutida a possibilidade de prendê-lo.
Prevaleceu, porém, o entendimento de que uma medida drástica poderia melindrar a cúpula do Exército, uma vez que Braga Netto, assim como outros bolsonaristas militares de quatro costados como Augusto Heleno, era ainda um general benquisto e respeitado no Alto Comando.
A opção foi por seguir investigando e deixar uma eventual prisão para uma situação em que não houvesse mais alternativa. Foi o que aconteceu. Braga Netto foi preso preventivamente neste sábado, como informou o PlatôBR, por suspeita de atrapalhar as investigações sobre a tentativa de impedir a posse de Lula.
Até então, a ideia era deixar que as apurações seguissem seu curso. Em último caso, a aposta era a de que ele seria condenado no processo que tende na ser aberto no Supremo contra os envolvidos nas ações golpistas. O general, como se sabe, foi indiciado, junto com Bolsonaro, Heleno e outros tantos (são 40 hoje), ao final do inquérito recém-concluído pela PF.
Os autos, hoje na Procuradoria-Geral da República, devem levar à apresentação de uma denúncia formal ao STF contra os envolvidos nos próximos meses. O julgamento do caso deverá dominar a agenda do tribunal em 2025.
Papel explícito
O papel de Braga Netto nas tramas já estava fartamente delineado, e isso ficou bem evidente no relatório final dos policiais. O general sempre foi visto com uma das cabeças principais da estratégia golpista.
Além de manter contato direto com os militares que vinham orquestrando planos como aquele que, segundo a PF, previa sequestrar e até matar o ministro Alexandre de Moraes, o então presidente eleito Lula e seu vice Geraldo Alckmin, Braga Netto era uma espécie de ponte também entre Bolsonaro e a militância que à época bradava na porta dos quartéis por uma intervenção militar – parte dela, reunida em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, foi a responsável pelas invasões aos prédios dos Três Poderes no fatídico 8 de janeiro de 2003.
Além de cuidar da articulação das várias frentes de ação, o general se incumbia de manter as claques bolsonaristas inflamadas e esperançosas de que algo na linha do que eles desejavam estava por vir. Foi desse conjunto de movimentos, que envolvia gente de dentro e de fora do governo (e de dentro e de fora das Forças Armadas), que saiu, por exemplo, a hoje famosa "minuta do golpe", que previa a anulação dos resultados das eleições presidenciais.
Após a derrota da chapa na qual havia sido vice, para tocar essas operações Braga Netto montou uma espécie de quartel-general na casa do Lago Sul de Brasília que havia servido como comitê da campanha de Bolsonaro.
Lá, recebia militares, representantes dos manifestantes acampados e outros aliados, inclusive parlamentares, e discutia os caminhos possíveis para tentar reverter a derrota, como agora está fartamente documentado nas mais de 800 páginas da investigação.
Após ser preso na manhã deste sábado, no Rio, o general foi levado para um quartel do Exército. O horizonte, para ele, não é dos melhores.