O presidente Lula teve alta neste domingo, 15, de internação no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde passou por cirurgia de emergência após sangramento intracraniano, e foi para sua casa no Alto de Pinheiros, na zona sul paulistana. Ele deverá ficar na cidade até quinta-feira, 19, quando fará uma tomografia para avaliar o seu quadro.
De sua casa, ainda em repouso, Lula não deverá ter uma semana tranquila. Mesmo de longe deverá orientar seus ministros e parlamentares do PT nas articulações com o Congresso, a partir desta segunda-feira, 16, para tentar aprovar o pacote de corte de gastos do governo e outros projetos importantes, como a regulamentação da reforma tributária.
Mesmo que não venha a falar diretamente com líderes do Congresso, Lula precisará conversar com seus ministros, auxiliares e políticos do PT, antes de tomar decisões importantes. Após o seu afastamento por causa do problema de saúde, as negociações com o Congresso haviam ficado a cargo dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União).
No caso do pacote fiscal, há questionamentos de partidos conservadores e de esquerda em torno de novas regras propostas para o salário mínimo, abono salarial e BPC (Benefício de Prestação Continuada). A intenção do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, é votar os projetos até a sexta-feira, 20, quando começa o recesso.
“Tenho medo”
Lula se emocionou na saída do hospital. Em entrevista logo após ter alta, disse que nunca pensou em morrer, mas que tem medo. Lula afirmou ter ficado assustado com a necessidade de uma cirurgia de emergência, depois de uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada.
Após o atendimento médico recebido depois do incidente, ele achou que já estava recuperado. E continuou, inclusive, fazendo exercícios físicos normalmente, o que pode ter influído no agravamento de seu quadro.
O presidente afirmou que, a partir de agora, irá se cuidar. “Vocês sabem que eu reivindico o direito de viver até 120 anos, afirmou.
Na TV
Na noite deste domingo, o programa “Fantástico”, da Rede Globo, exibiu uma entrevista de Lula na qual ele
falou sobre seu estado de saúde, os desafios do governo nos próximos dias no Congresso, taxa de juros e a prisão do general Walter Braga Netto, escudeiro de Jair Bolsonaro apontado como um dos principais personagens envolvidos na tentativa de golpe investigada pela Polícia Federal e pelo STF.
Sobre seu estado de saúde, o presidente disse: "Fiquei preocupado porque, afinal de contas, a cabeça é a parte mais delicada. Eu achei que estava fora de perigo. Isso é a verdade. Achei que estava fora de perigo, porque a última ressonância que eu fiz mostrava que estava diminuindo a quantidade de líquido na minha cabeça. Mas era engano meu".
Ele emendou: "Eu vou me cuidar, vou me cuidar. Eu tenho muita responsabilidade, eu tenho muita disciplina. Tenho a Janja, que é uma fiscal, sabe, como é que chama aquele juiz que fica, o VAR, ela é o meu VAR, ela é quem vai me obrigar a andar na linha, me cuidar. É isso, descansar".
Ao falar do pacote fiscal, que o governo deseja que seja aprovado nos próximos dias pelos congressistas, Lula disse que as medidas foram as possíveis, e aproveitou para criticar a recente alta na taxa de juros aprovada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom. "Nós fizemos aquilo que é possível fazer mandando (o pacote) para o Congresso Nacional. A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação", afirmou.
"Ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu. (...) Entreguei esse país numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez. E não é o mercado que tem de ficar preocupado com os gastos do governo. É o governo. Porque, se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, quem vai pagar é o povo pobre", disse ainda.
A respeito de Braga Netto, Lula, que na entrevista coletiva de mais cedo já havia defendido uma punição rigorosa caso o envolvimento do general na trama seja comprovado, falou do envolvimento de militares patentes em uma "máquina de maldades". “Pessoas que chegaram ao cargo de general de quatro estrelas, montaram uma máquina de fazer maldades e dar um golpe nesse país. É muito grave o que eles fizeram”, criticou.