Com a conclusão do inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar a trama bolsonarista junto ao governo de Donald Trump para articular sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decretou o fim do sigilo das informações reunidas pelos investigadores. Os autos incluem áudios recuperados pela PF no telefone celular de Jair Bolsonaro, apreendido recentemente.

Nos áudios, Bolsonaro diz, entre outras coisas, que a suspensão das sanções econômicas impostas por Trump ao Brasil estavam condicionadas à anistia dos investigados – entre os quais está incluído – pela tentativa de golpe em 2022. Ele também surge combinando uma maneira de driblar as medidas restritivas que lhe foram impostas pelo ministro Alexandre de Moraes para aparecer saudando os participantes de uma manifestação em seu favor – drible, que aliás, foi motivo da decretação de sua prisão domiciliar.

Em outras gravações, o pastor Silas Malafaia, um dos mais eloquentes personagens do bolsonarismo, desponta como uma espécie de “guru” de Bolsonaro. Malafaia aconselha o ex-presidente sobre como proceder diante das sanções anunciadas pelo governo Trump, critica veementemente uma manifestação pública de Eduardo Bolsonaro e elogia outra de Flávio Bolsonaro e, como um marqueteiro, até dá dicas sobre o horário ideal para entrevistas.

Confira a seguir os onze áudios.

‘Pode ligar pra mim’

Em um dos áudios, Bolsonaro fala com um deputado aliado, Capitão Alden (PL-BA), que estava na manifestação. Pede para que o deputado ligasse e o pusesse para saudar os participantes. “Você pode ligar pra mim e dizer: ‘Estou aqui com a imagem do Bolsonaro’. (…) Você fala. Eu não posso falar, não.”

 

Alinhamento com advogado da Trump Media

Em outro áudio, Bolsonaro avisa ao advogado Martin de Luca, que representa a plataforma Rumble e a Trump Media, de Donald Trump, que fez uma nota de quatro parágrafos para agradecer o presidente norte-americano. Trump, àquela altura, havia acabado de divulgar uma carta na qual se solidarizava com Bolsonaro. O ex-presidente pede ao advogado para avaliar os termos do agradecimento – só depois ele tornaria a nota pública.

 

Pedido para interceder junto a Valdemar

Nesta mensagem, Malafaia entra em cena pedindo que Bolsonaro intercedesse junto ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para resolver o “problema do Fabio”. Malafaia se referia a Fábio Wajngarten, aliado de Bolsonaro que foi demitido do PL em maio passado após um desentendimento com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

 

Malafaia em versão ‘guru’

A partir desta gravação, Silas Malafaia aparece aconselhando Jair Bolsonaro sobre diferentes assuntos. Diz, por exemplo, a quais veículos de imprensa Bolsonaro deveria dar entrevistas e reclama da forma como o ex-presidente havia criticado publicamente seu filho 03, Eduardo Bolsonaro, por queixas contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

 

Grave um vídeo, Bolsonaro

Malafaia sugere que Bolsonaro grave um vídeo para faturar politicamente a partir do anúncio das sanções impostas por Donald Trump. O pastor sugere que o pronunciamento seja no tom “a tarifa de Donald Trump não tem a ver com economia, mas com liberdade e justiça”, fazendo referência à proposta de anistia.

 

Crise de soluço

Ante a insistência de Silas Malafaia para gravar o vídeo, Bolsonaro diz: “Malafaia, estou com uma crise de soluço. A cada três segundos, um soluço. É impossível gravar alguma coisa. E essa crise está comigo há dias. Se por acaso acalmar aqui eu faço”. 

 

Primeiro, a carta

O ex-presidente emenda, ainda sobre o pedido do pastor para que fizesse um vídeo para aproveitar o anúncio de Trump: “Ô, Malafaia, eu meto a carta e depois vejo o vídeo, tá ok?”.

 

Tarifaço e anistia: toma lá, dá cá

Neste áudio, Bolsonaro deixa clara a estratégia para trocar uma solução para o tarifaço pela anistia aos envolvidos na trama golpista. “Resolveu anistia, resolveu tudo”, diz.

 

O ‘guru’ elogia Flávio e torpedeia Eduardo

Silas Malafaia envia um áudio a Jair Bolsonaro para elogiar uma entrevista na qual o senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do ex-presidente, disse não é a favor da taxação, mas que é necessário sentar e “conversar sobre anistia”. Aqui, Malafaia também reclama enfaticamente do tom de falas de Eduardo Bolsonaro que estariam prejudicando o próprio Jair Bolsonaro.

 

Canal direto

Bolsonaro diz a Silas Malafaia que não mandou Tarcísio de Freitas negociar por ele, referindo-se a uma reunião do governador de São Paulo na embaixada dos Estados Unidos em Brasília para tratar do tarifaço. Afirma ainda que tem “contato direto” com o governo Trump.

 

É fofoca, Malafaia

Em resposta a uma mensagem que havia recebido de Malafaia indagando sobre uma suposta “discussão violenta” com um de seus filhos, Bolsonaro diz tratar-se de “fofoca”. “Querem dividir o tempo todo”, reclama.

 

Além dos áudios, o levantamento do sigilo da investigação revelou o teor de mensagens de texto trocadas por Jair Bolsonaro, inclusive com Eduardo Bolsonaro. Em uma delas, o filho xinga o pai ao reclamar por ter sido chamado por ele de “imaturo” em uma entrevista.