BELÉM — Quem desembarca no aeroporto internacional de Belém, capital do Pará, entende, logo ao deixar o avião, que a cidade passa por uma transformação para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em novembro. As obras acontecem dentro e fora do terminal, e dezenas de operários trabalham na modernização no espaço. Além dos atendentes das companhias aéreas, quem passa pelo local cruza com máquinas, tapumes e elevadores hidráulicos. 

Com investimentos de R$ 450 milhões, a concessionária Norte da Amazônia Airports (NOA) aumentará em 2,7 vezes as áreas de embarque do aeroporto, que passará dos iniciais 1.593 metros quadrados para 4.303 metros quadrados ao final da reforma. Ao sair do terminal, já é possível passar por uma das 40 obras de infraestrutura urbana, mobilidade, hospitalidade, saneamento básico, drenagem, requalificação de estruturas existentes e implantação de sistemas tecnológicos em curso.

Como consequência dos muitos canteiros espalhados pela cidade, diversas vias estão fechadas parcialmente, o que tem provocado constantes engarrafamentos.

Segundo o secretário de Infraestrutura e Logística do Pará, Adler Silveira, 37 das obras em andamento são custeadas com R$ 4,5 bilhões de recursos dos governos federal e estadual, que geram 5 mil empregos diretos. Está prevista, por exemplo, a pavimentação de 279 vias, que totalizarão 88,72 quilômetros de ruas recuperadas.

No Parque da Cidade, sede do evento, uma área de 500 mil metros quadrados foi construída no local, que já foi um aeroporto. Até o momento, 97% das obras estão concluídas.

A Secretaria Extraordinária para a COP30, vinculada à Casa Civil da Presidência da República, é responsável pela estrutura provisória de 160 mil metros quadrados a ser montada no parque para receber as delegações que participarão da conferência. Até o momento, 60 mil metros quadrados estão prontos. 

Segundo Olmo Xavier, diretor da Secretaria Extraordinária, em 20 dias será possível montar os 100 mil metros quadrados de estruturas ainda necessários. Entretanto, a conclusão das obras, que prevê a instalação de mobiliário e equipamentos de climatização, está prevista para 1º de novembro – ou seja, apenas cinco dias antes da reunião de chefes de estado que virão para o encontro, antecipada para 6 e 7 (a programação geral da conferência se estenderá de 10 a 21 de novembro). 

“Como são estruturas temporárias e reaproveitáveis, com mobiliário alugado, é programado para estar pronto, de fato, muito próximo ao início do evento”, diz Xavier.

O Parque da Cidade será divido em “green zone” (zona verde), que receberá eventos paralelos de empresas, institutos de pesquisa e da sociedade civil, e “blue zone” (zona azul), onde ocorrerão as negociações entre os países e as reuniões bilaterais de alto nível.

Se as obras seguem aceleradas em Belém, o único tema que é um tabu para o governo do Pará é a crise das hospedagens na cidade, com escassez de opções e preços estratosféricos das diárias. As autoridades locais evitam falar abertamente do tema. Durante a visita ao Parque da Cidade, o secretário Silveira se negou a responder perguntas sobre o assunto.

Diante do imbróglio, representantes do governo federal e do governo do Pará se reuniram nesta última sexta-feira, 22, no integrantes do Bureau da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima).

O bureau pediu ao governo brasileiro que subsidie parte da hospedagem das delegações internacionais. A solicitação foi rejeitada. Segundo o secretário-executivo da COP30, Valter Correia, apenas 47 países dos 198 membros da ONU informaram oficialmente que têm reservas garantidas em Belém.

* O repórter Antonio Temóteo viajou a convite da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB)