A legião de ‘eleitores’ que ajudam Lula, sem ele pedir
Parece que é ironia. E de fato é. Segundo as últimas pesquisas da Genial Quest, divulgada por toda a mídia, vem da própria legião bolsonarista a maior contribuição para que Luiz Inácio Lula da Silva alcance cada vez mais índices elevados de aprovação numa possível candidatura à Presidência da República em 2026. Segundo a pesquisa, realizada entre os dias 10 e 14 de julho último, que ouviu 2 mil pessoas em todo o Brasil, o tarifaço imposto ao país por Donald Trump, apoiado e aplaudido pelo deputado Eduardo Bolsonaro, teve a reprovação absoluta dos brasileiros ouvidos, condenando também a submissão ridícula do filho mimado do ex-presidente, hoje acampado nas imediações da Casa Branca, atuando contra o Brasil.
A mesma pesquisa revela também que 68% das pessoas ouvidas acreditam, e apostam, que as atitudes adotadas pelo parlamentar atendem a interesse pessoal e familiar. Ou seja, Eduardo sonha com privilégios futuros e insiste em bajular a corte americana, visando benesses. Os atritos entre ele e os agentes da própria família com frequência são estampados nas redes sociais. Está em curso uma disputa de egos que abandona a intimidade das quatro paredes e sem nenhum constrangimento atropela protocolos, ética e o que mais aparecer pela frente.
Numa mistura de amadorismo político, aliado a uma visível incompetência de assessoria, os adversários de Lula não se dão conta de que essa balbúrdia de candidatos da mesma família mais atrapalha do que ajuda.
Uma simples comparação dos últimos números indicados pela pesquisa basta para confundir o eleitor, pinçando uma escolha sem nenhum critério com o mínimo de credibilidade. Sem Jair Bolsonaro no páreo, mesmo que não seja preso, o nome de Michelle Bolsonaro alcança o percentual de 37% de votos, contra 47% de Lula. Contra Flávio Bolsonaro, Lula lidera com 48%, contra 32%, e a vantagem de Lula sobre Eduardo é de 47% contra 32%.
Lula ganha em todos os cenários contra a família do capitão, que sem o padrinho de origem, se apresenta frágil em todos os segmentos. É sabido que ali há uma uma disputa de egos, e para quem mora na vila e conhece os caboclos, sabe que nesse grupo quem viaja não visita a catedral. As recentes trocas de farpas entre pai e filho, trazidas a público pelo discretíssimo e conciliador pastor Malafaia, escancaram sem mais delongas que por ali não há segredos. O Brasil inteiro sabe o que eles querem, o risco é que consigam. Analisar caso a caso o poderio de votos e a habilidade política de cada um seria cansar demais o leitor.
O estranho em toda essa narrativa é que resvala na ingenuidade, ou burrice, a total ausência de bom senso de um grupo que tem objetivos comuns, e não há um só integrante capaz de identificar que algo está absolutamente equivocado no desempenho dessa iniciativa. O bate-cabeças é claro, a falta de estratégia é evidente e a busca por um lugar na ribalta faz lembrar disputas estudantis, de cursos primários.
Aqui, um pequeno lembrete, para ser econômico. Apontada como possível candidata à presidência, na vaga de Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, ao invés de valorizar essa avaliação, e fazer crescer o interesse político em torno de seu nome, vulgariza suas apresentações em público. Ignora o momento conturbado do País, ataca adversários com vocabulário agressivo e parece não entender o que representa a possibilidade de uma candidatura à Presidência da República. Como mulher, ela sabe que o país é preconceituoso, tem um viés machista e tudo isso pode ser arrebanhado contra ela.
Fica claro mais uma vez a falta de orientação e imaturidade política. Condições, aliás, que reprovam quando a avaliação é feita por quem defende uma causa com a intenção de se obter vitórias. Além de Michelle, é sabido que os demais integrantes da família Bolsonaro pretendem marcar presença no cenário eleitoral do ano que vem, e os acertos partidários para que isso aconteça já estão em andamento.
O sinal de largada será dado após o julgamento de 2 de setembro no Supremo Tribunal Federal, quando será traçado o destino do ex-presidente, acusado de liderar tentativa de golpe contra o País. Já com seus nomes alinhados no local de largada, os governadores Ratinho Junior, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Eduardo Leite figuram nas listas de candidatos à Presidência da República, e todos eles até agora com índices abaixo dos números alcançados por Lula.
Segundo a Quest, o melhor colocado nessa disputa, que parece ser ser desigual, é Ratinho Junior, do Paraná. Seu nome tem a preferência de 34% dos eleitores, onde Lula alcança confortáveis 44% dos votos. Caiado ,Leite e Zema estão com pouco mais de 30%, e Lula trafega sempre acima de 45% das intenções de votos. Já com 80 anos de idade, até agora com saúde sob controle, e enfrentando crises esporádicas dentro do Governo, Lula tem dito que se até a data limite para se lançar candidato a situação seja favorável, vai tentar a quarta vitória. Pelo desempenho demonstrado pelos adversários até agora, e se nada ocorrer de excepcional que afete o andamento das eleições, suas chances de vitória permanecem amplas e absolutas.
Caso não se candidate, nenhum outro nome do governo terá condições de ocupar seu lugar com a mesma liderança. Nesse caso, segundo pesquisas, qualquer outra candidatura indicada pela oposição ganhará força e, segundo analistas, com resultados imprevisíveis. Até o momento, todos parecem colaborar para que o resultado seja favorável ao petista. Inclusive, e principalmente, os adversários. A saber.
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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