Com o discurso da soberania, que tem rendido louros aos petistas e ao presidente Lula, o PT quer disputar o Sete de Setembro com o bolsonarismo. Uma outra frente de atuação em comunicação do partido, nos próximos dias, será a tentativa de dominar a narrativa sobre a CPI mista do INSS, cuja composição marcou mais uma vitória da oposição sobre o governo no Congresso.

Em entrevista à coluna, o novo secretário de comunicação do PT, Éden Valadares, falou das estratégias do partido para ganhar tração nas redes sociais, até então dominadas pelos influenciadores da oposição. Baiano, Valadares foi indicado para a executiva petista pelo senador Jaques Wagner, de quem foi assessor, conforme antecipou a coluna. O novo secretário chegou a Brasília nesta segunda-feira, 25, e fez uma reunião de transição com o ex-secretário, o deputado Jilmar Tatto. “O que posso dizer é que reconhecemos e valorizamos os avanços que a comunicação do PT teve nos últimos anos, e pensamos que dá para renovar, acelerar, imprimir mais ritmo e ousar inovar em diferentes frentes”, disse o novo dirigente.

Qual vai ser a prioridade de comunicação do PT? Vimos duas frentes atuais nas redes sociais: o Sete de Setembro e a CPI mista do INSS. Vai continuar nessa linha?
Essas são agendas importantíssimas, que estão na ordem do dia e vamos nos mobilizar em torno delas. A do Sete de Setembro porque tem um significado muito grande em defesa da independência e da soberania do nosso país, em um momento em que lideranças da direita e da extrema-direita adotam postura de colaboração com um país estrangeiro que ataca a nossa soberania por razões ideológicas, políticas, sem justificativa do ponto de vista do comércio internacional ou mesmo do bom senso. E a CPI, para que a turma que torce contra o Brasil, a do ‘quanto pior melhor’, não faça da comissão palanque eleitoral antecipado ou, pior, instrumento para tentar paralisar o governo e o país. Mas, repare, como você perguntou sobre prioridade eu não poderia deixar de apontar duas mais de longo prazo: a reeleição do presidente Lula e um profundo debate com a sociedade brasileira que formule uma proposta efetiva de criação de um ambiente digital seguro, regulado pela lei brasileira e orientado por princípios e valores democráticos. É preciso avançar na regulação das redes sociais com legislação moderna e mecanismos efetivos de punição para quem comete, transmite ou permite ação criminosa no ambiente digital.

Vocês estão disputando o terreno do Sete de Setembro com o bolsonarismo. O que vão fazer para ganhar essa disputa?
Não se trata de uma gincana para ver quem mobiliza mais. Eu costumo dizer que onde a contagem de maioria é valor absoluto é na eleição; e, na urna, Bolsonaro perdeu, não reconheceu, conspirou para ficar no poder através de um golpe. Penso que o que está em jogo é quem vai fazer coro com o absurdo pedido de anistia, ou seja, de perdão prévio para quem atentou contra a democracia e elaborou um plano para assassinar o presidente da República, o vice e o presidente do TSE, de um lado. E, do outro, quem vai ocupar as ruas e as praças do país para defender a soberania do Brasil, o cumprimento das leis e os valores da democracia. O 7 de Setembro deste ano vai separar quem é patriota de verdade, quem ama e defende o Brasil, daqueles que são patriotas do colonialismo, que não gostam e entregam o país a interesses de outros povos.

O governo vive um momento de reabilitação na opinião pública. Como surfar nessa onda?
Pesquisa é retrato de momento e não se deve comemorar quando os números são positivos nem ficar triste quando oscilam para baixo. O que muda a percepção do povo, a opinião pública, o humor e avaliação da sociedade sobre um governo é trabalho e entrega. E isso o governo do Presidente Lula tem de sobra. Muito trabalho semeado e muitos resultados traduzidos em colheita. Na economia, no emprego, no crédito, nas políticas sociais, no controle da inflação e na condução do país. Desafio a oposição a comparar qualquer número do governo do presidente Lula com o tempo de Bolsonaro. Pode escolher o tema ou a área. Então, a vida do país melhorou, a vida das pessoas melhorou e é isso que será considerado pelo eleitor e pela eleitora na frente das urnas.

Vocês vão trabalhar em linha com a publicidade de Sidônio Palmeira, da Secom?
Não é segredo para ninguém que o ministro Sidônio é um amigo de longa data, alguém que gosto e cultivo a amizade. Mas nossa chegada a Brasília tem como propósito, como missão, coisas diferentes. Em certa perspectiva até complementares, mas diferentes. Sidônio tem o dever constitucional de dar conhecimento à sociedade brasileira o que o governo tem feito, apresentado e ofertado ao povo como programas, ações e políticas públicas. Eu fui eleito pelo Diretório Nacional do PT para coordenar a política de comunicação do partido, defender e disputar na sociedade nossa visão do que é comunicação no mundo contemporâneo e o papel que ela tem nos rumos que tomam nosso país, nossas vidas, nosso futuro, e começar a organizar a disputa eleitoral de 2026 com foco central na reeleição do presidente Lula. Nossos caminhos se encontram na defesa da democracia, da Constituição, do império das leis.

Na semana que vem, começa o julgamento de Bolsonaro e de seu núcleo duro. Como o PT vai agir na comunicação? Será um acompanhamento direto do julgamento?
As atenções do PT estarão voltadas para esse julgamento como o de todo o campo democrático estará, o mundo político e de certa maneira das relações internacionais pois, certamente, será um marco para a história do Brasil. O julgamento de Bolsonaro coloca o país em uma encruzilhada entre obedecer a Constituição ou jogar na lata do lixo todo o nosso ordenamento jurídico, a independência dos Poderes Constitucionais e o próprio conceito de República. Eu não acredito que a Suprema Corte caminhe nessa direção, mas uma inexplicável anistia a quem conspirou contra o Estado de Direito e planejou assassinato de adversários políticos elevaria a impunidade ao caráter de regra geral no Brasil. Portanto, o PT vai sim acompanhar, monitorar e dar conhecimento à sua base de militantes, filiados e simpatizantes de cada momento deste julgamento.