Apesar de ainda existir a possibilidade de recurso ao plenário do STF (Supremo Tribunal Federal), a condenação de Jair Bolsonaro (PL-RJ) ao final do julgamento que começa nesta terça-feira, 2, é dada como certa. Políticos de centro e da direita contam que o ex-presidente não estará no jogo de 2026 e, nesse contexto, começam a se mover para conquistar o eleitorado bolsonarista.
Os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR) já se apresentaram. Nenhum deles, porém, tem o destaque de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que nega ter interesse de disputar Planalto mas cada vez mais se coloca cada vez mais como candidato.
Até dentro do PL, que nos bastidores tem conversado com siglas do Centrão para construir uma alternativa à candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Tarcísio é visto como o mais capaz de “unir a direita” e o único que fez gestos na direção do ex-presidente. Foi considerando a situação de Bolsonaro condenado que o governador de São Paulo anunciou que seu primeiro ato, se eleito presidente, seria o de conceder indulto a Bolsonaro.
Com a declaração, Tarcísio fez um gesto ao bolsonarismo para não ser considerado um traidor. O governador calcula que precisa ser mais palatável às alas mais radicais da direita – e garantir a herança eleitoral de Bolsonaro – antes de se colocar como um candidato com capacidade de levar os votos do centro do eleitorado.
Trata-se de uma estratégia que o governador tem desenhado, inclusive, em conversas com integrantes do PL. “Tarcísio é mais identificado conosco”, disse o deputado Domingos Sávio (PL-MG), que conversou com Tarcísio na semana passada, antes da declaração sobre conceder anistia ao ex-presidente.
“É claro para nós que no PL e para uma grande parcela da população brasileira que o presidente Bolsonaro é o nosso grande líder e o Tarcísio, sempre que tem oportunidade, ele atribui, com muita justiça, que deve a trajetória política bem sucedida à confiança que o presidente Bolsonaro teve nele”, acrescentou o deputado ao falar com o PlatôBR.
Nem tanto
Na largada da caça aos votos bolsonaristas, Zema escorregou e não foi perdoado por ter dito em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, que nunca esteve no mesmo partido que o ex-presidente e só o apoiou no segundo turno de 2022. “Quem conhece minha história sabe que na campanha de 2018 eu caminhei de um lado e Bolsonaro de outro. Em 2022, a mesma coisa, exceto no segundo turno, quando eu já estava reeleito e o apoiei”, afirmou o governador, em um posicionamento menos deferente a Bolsonaro do que o de Tarcísio.
Na avaliação de membros do PL, Caiado também não se saiu bem no desafio por ter dito que não há “reserva de mercado” no eleitorado de direita e que, independente do apoio de Bolsonaro, os governadores podem se lançar candidatos.
Ratinho Júnior tem buscado um caminho ainda mais descolado de Bolsonaro. Não falou, por exemplo, sobre a tornozeleira eletrônica que o ex-presidente passou a usar por ordem de Alexandre de Moraes. Muito menos prometeu indulto. Membros do PSD apontam, em reservado, que a estratégia segue uma direção contrária à de Tarcísio por considerar a insegurança de ter Bolsonaro como um apoiador.
“Ratinho Júnior não pode se amarrar a Bolsonaro porque ninguém sabe o que vai acontecer. Bolsonaro pode inclusive lançar um dos seus filhos, Eduardo ou Flávio, como candidato e deixar o governador de São Paulo sem apoio”, disse ao PlatôBR um interlocutor do PSD.
Nesta segunda, véspera do início do julgamento, Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, deu um exemplo de ação que assusta uma parcela relevante do Centrão, incluindo o PSD. Mesmo depois da declaração de Tarcísio sobre um possível indulto, o filho do presidente disse que ele e sua família avaliam deixar o PL se o governador de São Paulo migrar para a sigla. Eduardo se colocou novamente como o candidato da família. “A gente já tem a chancela do sobrenome Bolsonaro, a experiência no Parlamento, experiência internacional”, afirmou.