O Brasil decidiu jogar sua carta mais valiosa na mesa da energia mundial: a matriz renovável. Em Paris, o governo entregou à Agência Internacional de Energia o pedido formal de adesão plena à organização que reúne 31 países da OCDE e dita rumos da política energética global, desde a crise do petróleo de 1974.

Até agora, o Brasil era apenas associado, com acesso restrito a grupos técnicos. Se aceito, passará a ter assento nas decisões estratégicas ao lado de Estados Unidos, Japão, Alemanha e Reino Unido.

Na carta enviada ao diretor-executivo da agência, Fatih Birol, os ministros Mauro Vieira e Alexandre Silveira destacaram que o país é exportador líquido de petróleo, mas sobretudo dono de uma das matrizes mais limpas do planeta. O dado que embala o pleito está no balanço recém-divulgado pela pasta: em 2024, 88,2% da eletricidade gerada no país veio de fontes renováveis, contra uma média mundial inferior a 30%.

A força hídrica ainda é dominante, mas divide espaço com fontes em franca ascensão. A energia eólica cresceu 12,4% em 2024, a solar disparou 39,6%, e juntas já respondem por quase um quarto da geração elétrica brasileira.

“É essa combinação equilibrada que assegura diversificação, segurança energética e avanço da transição energética”, disse ao colunista o Ministério de Minas e Energia.

O governo lembra que a expansão hidrelétrica passa hoje por filtros ambientais mais rigorosos. Nos leilões de reserva de capacidade, só participam projetos com licença ambiental válida, e os novos empreendimentos priorizam usinas de pequeno porte. A lógica, segundo o MME, é manter confiabilidade no abastecimento sem repetir os impactos socioambientais de grandes barragens.