Sem Bolsonaro, direita bate cabeça e perde o rumo
Se tudo acontecer como está previsto, nas próximas horas vamos saber em detalhes qual o destino político e pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais 7 aliados dele, afinados e acusados de elaborar um golpe contra a democracia brasileira. Há fortes indícios de que os ministros do Supremo estão convictos de que as provas reunidas contra os acusados são robustas, e a condenação será a escolha mais votada. Estão em dúvidas, ainda, quanto a pena que será aplicada a eles, e de que forma.
Enquanto tudo ainda tem cara de talvez, o que se observa é que a dependência da presença de Bolsonaro junto aos seus apadrinhados causa um verdadeiro terremoto, e arremete para consequências danosas à sobrevivência de algo que ainda acreditam ser um projeto político.
São visíveis os sinais de descontrole, insegurança e fragilidade administrativa e política a todos aqueles que, ou por medo ou por incompetência, nada fazem sem o aval de Bolsonaro. Vamos aos detalhes. Dos Estados Unidos o filhinho chorão telefona, esbraveja, pede dinheiro, acusa a todos e acha que a única saída para a crise que se avizinha é cair no colo de Donald Trump e exigir dele punição ao governo brasileiro.
Atitudes piegas e rasteiras. Sem a presença de Bolsonaro, integrantes do PL no Congresso Nacional batem cabeça, se mostram carentes e despejam críticas e cobranças à figura do presidente da Câmara, Hugo Motta, apelando para que convoque e incentive a votação de uma anistia, única ferramenta que acreditam que possa trazer de volta o capitão e sua força, já debilitada. No comando do PL, partido de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, com a credibilidade de uma nota de três reais, esbraveja, grita, esperneia e faz palestras para plateias de surdos.
Sempre que pode, ironiza a possível presença de Michelle Bolsonaro numa candidatura à presidência da república, sugerindo a ela uma candidatura ao Senado, onde teria mais chance.
Talvez até esteja certo, mas a forma como a trata escancara a sua dificuldade em separar avaliação política da chamada fofoca destruidora. Sua falta de tato sugere alguém que esmaga pulgas com luva de boxe, uma lástima. Andando em círculos, cada dia mudando de opinião, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece que até hoje não entendeu de fato que governa o maior estado brasileiro, comanda a maior economia do País, é um líder da Sul América e pode ser voz ativa no maior colégio eleitoral do Brasil.
Desde que assumiu o cargo, se vê na obrigação de prestar contas de tudo que faz ao capitão que o elegeu, como se fosse um comandante que não comanda. Por um lado, teme ser abandonado e cair num ostracismo político sem volta. Como disse Lula dias atrás, “sem Bolsonaro Tarcísio não é nada”.
Quem tem boa memória vai se lembrar que Tarcísio foi eleito em São Paulo unicamente por que foi pinçado pela popularidade em alta de Bolsonaro, e devido a essa coleira parece ignorar que, para consolidar seu futuro político, primeiro tem que mostrar que tem asas, e sabe voar. E depois entender que a fila anda, e se agarrar na mão de quem está se afogando pode surtir efeito no cinema. Na vida política, é sentença.
A sua recente visita surpresa a Brasília, quando veio incrementar o balão de ensaio visando a votação de uma anistia, que possa beneficiar Bolsonaro, demonstra a sua total subserviência, abandona a opção de uma carreira própria e queima de vez uma possível largada que muitos esperavam dele, com chances de sucesso.
Flanando numa aparente liderança tranquila, sabidamente o mais inteligente dos líderes da direita e economizando discursos que não levam a nada, o senador do Piauí, Ciro Nogueira, de 56 anos, preside o Partido Progressista de forma pragmática, sem estrepolias sentimentais, e adota conduta realista sobre a verdade política de hoje.
Apoia e defende Bolsonaro, mas não sai por aí cavalgando em cabo de vassouras, como aqueles aloprados que confundem apoio logístico com puxa-saquismo selvagem. Se o bolsonarismo tivesse a seu lado um número maior de apoios do porte de Ciro Nogueira, com certeza o mundo petista teria mais problemas a enfrentar.
Quem é do ramo sabe que essa é a dura realidade, basta apertar botões e rolar a imensa lista de apoiadores que fazem barulho, agridem, ofendem e desacatam. Ao invés de grupos, formam bandos. Bolsonaro quis assim, e assim será. É o que parece.
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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