Eis um exemplo de como a profusão de escândalos de corrupção no Brasil nas últimas décadas pode criar situações curiosas: o ex-deputado João Paulo Cunha, condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato e preso no mensalão, passou a atuar como advogado do também ex-deputado Luiz Argôlo, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro e preso no petrolão.
Ao lado de outros três advogados, Cunha apresentou ao STF um pedido em nome de Argôlo para obter acesso à íntegra das mensagens trocadas no Telegram por procuradores da Operação Lava Jato no Paraná. O material foi acessado e vazado por um hacker e apreendido pela Polícia Federal em 2019, na Operação Spoofing. As mensagens estão armazenadas na 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal.
Com base nos chats, diversos alvos da Lava Jato têm conseguido junto ao ministro Dias Toffoli, do STF, anular condenações sob alegação de conluio entre a força-tarefa da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro. Luiz Argôlo foi condenado a doze anos e oito meses de prisão na Lava Jato e ficou preso entre abril de 2015 e abril de 2019.
Defendido por João Paulo Cunha, que retomou o bom trânsito em Brasília, o ex-deputado baiano tem tudo para buscar o mesmo caminho jurídico: em decisão sigilosa assinada em 28 de novembro, Toffoli atendeu ao pedido feito por Cunha e autorizou que a defesa acesse as mensagens hackeadas.