A Galinha Pintadinha, fenômeno infantil que conquistou 38 milhões de inscritos no YouTube e virou referência global, resolveu arriscar uma guinada inusitada e trocou o “cocoricó” por um “proletariado, uni-vos” nas redes sociais. Os perfis da personagem adotaram uma linha de posts com humor político à esquerda que, para os seguidores, já rendeu um novo apelido: “a galinha comunistinha”.
As piadas são diretas. A “Borboletinha” começa cantando inocente sobre fazer chocolate na cozinha, mas a sequência embala com o hino da União Soviética. A Dona Aranha deixou de ser só teimosa: agora reflete sobre mérito e privilégios históricos que “sempre sobem” ou “sempre descem”. Já o sapo que não lava o pé talvez não seja preguiçoso, mas vítima de um sistema que o ensinou a economizar água para que “1% da população gastasse em viagens de 10 minutos ao espaço”.
A estratégia viralizou e vem atraindo comentários. Um seguidor chegou a descrever a Galinha como “camarada do proletariado”, e a resposta do perfil veio sem rodeios: “aqui você disse tudo”.
A estratégia, segundo especialistas em comunicação, é de alto risco. Em uma sociedade tão polarizada, assumir discurso ideológico pode trazer engajamento rápido, mas ameaça afastar parte do público-alvo — sobretudo os pais, que também são consumidores da marca.
Há quem veja no movimento uma decisão embasada por pesquisas sobre um nicho específico, mas que dificilmente terá fôlego no longo prazo nem será replicada por outras marcas infantis.
Para Lilian Ribeiro, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), o movimento não se sustenta a longo prazo: “É uma decisão para chamar a atenção e me parece, na verdade, um tiro no pé. O público não tem a ver com o discurso, que não tem a ver com o produto que está sendo vendido”.
Já Elis Monteiro, professora do Ibmec e da FGV, enxerga uma decisão ideológica no rumo da na estratégia da marca.
“Me parece uma decisão descoordenada em relação ao público-alvo que compra produtos dessa natureza. É muito mais uma escolha de marketing, em busca de engajamento, do que de negócios”.
Procurada pela coluna, a equipe da Galinha preferiu não comentar a estratégia.