O voto enfático e longo do ministro do STF Luiz Fux no julgamento do núcleo central da trama golpista teve impactos significativos nos altos escalões da política. No Palácio do Planalto, apesar de haver uma orientação não oficial para que ministros evitem falar sobre o assunto publicamente, os comentários nos bastidores são de que a maior preocupação refere-se aos efeitos dos argumentos de Fux no clima do Congresso, em especial, na Câmara, onde bolsonaristas pretendem reforçar a pressão pela votação do projeto de anistia dos condenados.
A ideia é evitar críticas sobre o interesse político e eleitoral dos governistas em relação à provável condenação de Jair Bolsonaro, embora Fux o tenha absolvido de todas as denúncias da ação penal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu a agenda como se o julgamento não estivesse ocorrendo.
O pedido de discrição vale para comentários positivos ou negativos. “Mais do que ter uma fala retratada por algum veículo de comunicação com elogios ao Alexandre de Moraes, o mais importante é ver Bolsonaro condenado”, justificou uma fonte palaciana ao falar sobre a estratégia de silêncio.
Pressão na Câmara
Fux proferiu um voto longo, sem aceitar apartes. Sem as costumeiras contraposições entre ministros, ele dominou o noticiário desta quarta-feira com seus argumentos contra a denúncia da PGR. Suas posições animaram os bolsonaristas empenhados na defesa da anistia no Congresso.
Os efeitos do voto de Fux sobre a pauta da Câmara, na visão do governo, ainda são imprevisíveis. O Planalto considera que Motta tomou uma postura positiva ao conseguir adiar a pauta da anistia e esvaziar os embates na Câmara nesta semana.
Para o governo, o mais importante é que o presidente da Câmara sinalizou disposição de encaminhar a votação do projeto que isenta do pagamento do imposto de renda para pessoas que recebem menos que R$ 5 mil por mês. Depois do voto de Fux, auxiliares de Lula enxergam a oposição com mais poder de argumentação para tentar convencer Motta a levar o projeto da anistia ao plenário.
Da parte do presidente da Câmara, as indicações são de que as pressões têm poucas chances de surtir efeito. Interlocutores de Motta informam que ele não está disposto a endossar o texto mais radical. Aceita, no entanto, negociar uma proposta que exclua os líderes da trama golpista.
Tarcísio
O voto de Fux também foi bem recebido pelo entorno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Pessoas próximas ao governador elencam dois motivos para o otimismo. Um fator é que a divergência de Fux cria um clima mais favorável para que o governador tente se reaproximar de ministros do STF, após ter chamado o ministro Alexandre de Moraes de “tirano”, no discurso que fez na Avenida Paulista, durante a manifestação bolsonarista no Dia da Independência.
O outro motivo diz respeito diretamente a uma eventual candidatura de Tarcísio à Presidência da República. Aliados do governador ponderam que o voto de Fux dá esperanças a Bolsonaro de reverter sua condenação no futuro.
Por esse entendimento, Tarcísio poderia exercer um papel determinante para essa reversão, na medida em que, como presidente, teria a oportunidade de indicar três novos ministros para o Supremo, mudando a composição hoje desfavorável ao ex-presidente. O governador já sinalizou a Bolsonaro sua disposição lhe conceder o indulto presidencial.