Realizamos esta semana um sonho de décadas, com a conexão elétrica do Estado de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN), mediante o início da energização do Linhão Manaus-Boa Vista. Completamos, finalmente, o mapa energético do Brasil.

São cerca de 725 quilômetros de extensão, começando na Subestação Engenheiro Lechuga, no Amazonas, e chegando à capital de Roraima – o último estado isolado da Federação. Dessa maneira, além de ser uma das mais importantes obras dos anos recentes no país, a interligação é emblemática para todo o setor de energia.

Despontam os benefícios da iniciativa, em especial para as pessoas que mais precisam. O primeiro deles é que os moradores de Boa Vista passarão a ter a mesma qualidade e a mesma continuidade de fornecimento de energia elétrica do restante do Brasil.

Isso representa mais estabilidade, sem apagões. Estamos falando de atendimento seguro para iluminar a casa e manter a geladeira funcionando o tempo todo, a TV ligada na hora do gol e da novela, a internet sempre conectada ao mundo, serviços constantes nos hospitais e nas escolas, bem como mais segurança pública com os postes acesos regularmente.

O segundo grande benefício diz respeito à proteção da natureza. É o maior projeto do sistema elétrico para a descarbonização da região amazônica, favorecendo a transição energética brasileira e os esforços nacionais para o enfrentamento das mudanças climáticas. A interligação possibilitará a redução da geração pelas usinas termelétricas do estado, que são altamente poluentes por causa dos combustíveis fósseis e produzem energia a preço mais alto. A substituição gradual das usinas termelétricas por fontes limpas e renováveis reduz as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em mais de um milhão de toneladas de gás carbônico por ano.

Em terceiro lugar, os benefícios se estendem à população brasileira em seu conjunto. Haverá alívio na Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), encargo adicionado às tarifas de energia elétrica de todos os consumidores do país para subsidiar os sistemas isolados. O novo linhão permite desligar as termelétricas gradualmente. Isso significará uma economia de mais de R$ 500 milhões por ano, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Reforçamos a infraestrutura na Amazônia, o que demonstra a capacidade brasileira em superar desafios complexos e de grande envergadura. A implantação se arrastava por mais de uma década, com investimentos de R$ 3,3 bilhões paralisados por impasses.

Durante a obra, houve a criação de cerca de 3.000 empregos diretos, distribuídos entre canteiros de obra e escritórios, além de muitos outros indiretos. A construção se deu com diálogo e respeito aos povos indígenas waimiri-atroari.

Em resumo, sai o combustível fóssil e entra a energia limpa – desenvolvimento sustentável, despoluição da floresta, inovação tecnológica e melhores condições de vida para a região.

Vem mais por aí. O linhão tornará o Estado de Roraima mais atrativo para novos investimentos na indústria e no agronegócio. Serão mais postos de trabalho e novas oportunidades para empreendedores. É garantia de mais desenvolvimento regional e estímulo ao crescimento econômico.

Energia elétrica representa inclusão social e dignidade para as famílias. Tirar brasileiras e brasileiros da escuridão é uma missão antiga do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde seu primeiro mandato, já foram mais de 17 milhões de pessoas alcançadas pelo programa Luz para Todos.

Em julho, entrou em funcionamento o Luz do Povo para 115 milhões de pessoas, mais da metade da população do país. Cerca de 60 milhões de brasileiros passaram a ter a conta gratuita até o consumo de 80 quilowatts-hora. Outros 55 milhões recebem desconto na tarifa. O programa Energias da Amazônia moderniza o fornecimento em sistemas isolados. Na mesma direção, há agora o Gás do Povo, com botijão de graça para 17 milhões de famílias. São exemplos de políticas públicas inovadoras, que colocam a inclusão social em destaque.

No contexto da transição energética, vale citar ainda a retomada do caminho da expansão da energia baseada na força das águas, com a realização recente do leilão das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH).

Completar o mapa energético do país com a integração de Roraima é uma imensa vitória para o Brasil, esse gigante pela própria natureza – uma vitória social, econômica, geopolítica e ambiental.

Às vésperas da COP 30, reiteramos, assim, nosso papel de liderança global da transição energética, com o avanço crescente das fontes limpas e renováveis.

Nos dias turbulentos que vivemos em função das incertezas nas relações internacionais e na semana em que é celebrada a Independência nacional, mostramos ao mundo um Brasil cada vez mais conectado e soberano.

Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia