Na Câmara, a oposição promete insistir na aprovação da versão mais radical do projeto que prevê anistia para Jair Bolsonaro e todos os outros condenados por tentativa de golpe de Estado. No Palácio do Planalto, Lula se encontrou nesta quinta-feira, 11, com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Passado o julgamento, as forças políticas reavaliam suas estratégias para os próximos meses. Na prática, todas se movimentam para 2026.

Motta resiste a pautar a anistia, apesar das pressões feitas pela oposição. Enquanto a Primeira Turma julgava Bolsonaro, o presidente da Câmara foi ao Planalto para participar da sanção do projeto que criou a carteira nacional do docente. Embora o encontro com Lula em um dia tão simbólico passe a ideia de estreitamento nas relações entre Câmara e Planalto, a força da bancada de deputados aliados do ex-presidente pode ganhar a queda de braço com os governistas e levar ao plenário a proposta de perdão dos punidos pela trama golpista.

Lula, Motta e o presidente do Senado, David Alcolumbre, evitaram comentar publicamente o resultado do julgamento no STF na noite desta quinta-feira, quando terminou a sessão na Primeira Turma. Cada um com suas razões, eles ainda estudam os próximos passos, depois da condenação de Bolsonaro.

Do lado dos chefes do Congresso, a cautela se explica pela necessidade de manter as boas relações com a oposição, que teve papel importante na eleição dos dois para os cargos que ocupam.

Para Lula, o silêncio nas primeiras horas se deve à avaliação de que o governo deve evitar gestos que levem a críticas sobre politização do julgamento. Mas, nos próximos dias, ele deve se pronunciar sobre o julgamento. O mais importante para o Planalto, neste semestre, é aprovar as pautas econômicas em tramitação no Congresso, principalmente, a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.

Mais cedo, uma entrevista
Antes do resultado do julgamento, porém,  em um entrevista ao Jornal da Band, o petista respondeu a uma pergunta sobre o voto divergente de Luiz Fux. “Bolsonaro tentou dar um golpe neste país. Ele tentou dar um golpe. São dezenas, centenas de provas, de atos, de falas, de discursos, de material por escrito, de tudo o que ele tentou fazer”, disse o presidente. “Se o ministro Fux não quis ver as provas, é um problema dele. Eu acho que as provas estão fartas, disse Lula.

No Planalto, a postura mais enfática ficou por conta da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). “Foram condenados no devido processo legal, mediante provas contundentes dos crimes que cometeram. É uma decisão histórica, sem precedentes, para que nunca mais ousem atentar contra o estado de direito e atentar contra a vontade do povo expressa nas urnas”, afirmou a ministra.

Condenado 27 anos e 3 meses de prisão, Bolsonaro fica sem perspectivas de voltar ao poder. Por essa razão, seus seguidores se apegam à anistia como única saída para o retorno do ex-presidente às disputas políticas. 

Alcolumbre se dispôs a elaborar um proposta que possa reduzir as penas das pessoas que participaram dos atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, mas sem contemplar o ex-presidente, os demais condenados da cúpula do golpe e empresários que financiaram a invasão à sede dos três poderes.

Texto da anistia
Após a decisão do STF sobre a trama golpista, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), indicou que não aceitará uma versão do texto de anistia que não inclua o perdão para o Jair Bolsonaro (PL-RJ). Ao se manifestar nas redes sociais, Sóstenes apontou o julgamento como um “espetáculo armado” e insistiu na ideia de vingança contra o ex-presidente. “O que vimos não foi um julgamento, foi um espetáculo armado para esmagar um homem e silenciar milhões. Negaram o direito de defesa, restringiram sua liberdade de ir e vir e anteciparam a sentença. Isso não é justiça, é vingança”, disse o líder, nas redes sociais.

“E, diante desse abismo, só há um caminho para resgatar o Brasil: a anistia”, continuou. “A anistia não apaga os erros, mas abre a porta para a reconciliação e para a paz que o Brasil precisa”, acrescentou.