Após dias seguidos de protagonismo do Judiciário, a semana política começa em Brasília com expectativa de retomada das pressões sobre o Congresso para avançar em propostas essenciais tanto para o governo quanto para a oposição. O Palácio do Planalto prioriza a conclusão, na Câmara, da votação da proposta que isenta do pagamento do Imposto de Renda pessoas que ganham menos de R$ 5 mil. A oposição seguirá pressionando pela anistia.

Antes do veredicto do STF (Supremo Tribunal Federal) que estipulou a pena de 27 anos e 3 meses de prisão para Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou ao governo que está disposto a levar a proposta do IR a votação, nomeando Arthur Lira (PP-AL), seu antecessor no posto, para relatar o projeto também em plenário. Lira já havia sido o relator da proposta na comissão especial criada para tratar do tema.

A oposição, por sua vez, vai redobrar a aposta e as articulações pela anistia. Os aliados mais próximos de Bolsonaro vão insistir na tentava de um perdão completo e irrestrito pelos envolvidos na trama golpista, incluindo o próprio ex-presidente. Na cúpula do Congresso, porém, e em parte do Centrão há resistência a essa ideia – especialmente por parte do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

O governo se move para usar as armas que tem contra a proposta. Ameaça, inclusive, exonerar apadrinhados de parlamentares que apoiarem a anistia. O Planalto acredita que conta com o apoio de Hugo Motta para impedir que o plano da oposição avance. Na quinta-feira, 11, dia da conclusão do julgamento, a ida do presidente da Câmara ao Planalto para participar de uma cerimônia ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi lida como um bom sinal nesse sentido.

Segundo fontes do palácio, Motta chegou a conversar a sós com o presidente. O teor dessa conversa não foi divulgado, mas as chances de o tema da anistia ter sido abordado são grandes. Lula tem reafirmado que o governo é completamente contrário à proposta, mesmo em sua forma mais branda, que excluiria do perdão Bolsonaro e outros personagens tidos como cabeças da trama golpista.

O governo também acredita que o resultado acachapante do julgamento e a maneira como se deu a construção do veredicto ajudem a arrefecer o apoio de ao menos uma parte do Centrão ao plano dos bolsonaristas.

Para auxiliares do Planalto, foi importante, por exemplo, o gesto do presidente e do decano da corte, respectivamente os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, de comparecer à sessão como forma de dar força e peso institucional à decisão. Isso pode ter reflexo no clima no Congresso, acreditam esses auxiliares, uma vez que muitos parlamentares do Centrão não têm interesse em se indispor com o tribunal.

Hugo Motta tem resistido a marcado data e definir relator para a proposta. Interlocutores dele esperam que os próximos passos em relação ao assunto fiquem claros na reunião de líderes marcada para a manhã desta terça-feira, 16.