Efusivamente elogiado no bolsonarismo por ter votado pela absolvição de Jair Bolsonaro no julgamento do golpe, Luiz Fux já havia se compadecido de argumentos de Bolsonaro ao analisar um outro caso sensível que o envolvia, ainda antes de ele se tornar presidente.

Fux foi autor de um dos três votos na Primeira Turma do STF que rejeitaram denúncia da PGR contra Bolsonaro por suposto racismo contra comunidades quilombolas. O julgamento ocorreu entre agosto e setembro de 2018, às vésperas do início da campanha presidencial.

As declarações que motivaram a denúncia da ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge foram dadas em abril de 2017, em um clube no Rio de Janeiro. Disse o então deputado Bolsonaro, aspirante à Presidência: “eu fui num quilombo, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gastado com eles”.

Antes do julgamento da Primeira Turma, mesmo colegiado que agora condenou Bolsonaro por tentar dar um golpe, Fux e Bolsonaro tiveram um particular no gabinete do ministro.

Na ocasião, Bolsonaro jurou diante de Luiz Fux que não havia sido racista em suas declarações. O ministro acreditou. No dia 28 de agosto, Fux votou contra a acusação da PGR, assim como Marco Aurélio Mello. Luís Roberto Barroso e Rosa Weber acolheram a denúncia. Alexandre de Moraes pediu vista.

Em 11 de setembro de 2018, exatos sete anos antes da condenação por tentativa de golpe, Moraes votou sobre a denúncia de racismo. Ainda sem imaginar que se tornaria o maior algoz do bolsonarismo, o ministro deu o voto de minerva que rejeitou a acusação de Dodge. Àquela altura, Bolsonaro estava internado em estado grave em São Paulo, cinco dias após ser esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).