A volta de Trump reacendeu o debate sobre ESG, mas um grupo relevante de empresas brasileiras decidiu transformar o tema em estratégia — não em bandeira. A leitura é pragmática: no comércio global do século XXI, a sustentabilidade não é luxo nem ideologia, mas parte fundamental dos negócios.
O movimento se intensificou em janeiro, com a carta da Natura, marcando posição: “Nosso compromisso com a vida não aceita retrocessos”.
A pronúncia foi seguida pelo manifesto “Um compromisso inabalável com o futuro”, assinado por grandes empresas, como Carrefour, Ambev, Suzano, Itaú, B3, Magazine Luiza e Vale.
A motivação é guiada pelos anseios de mercado. Clientes institucionais e cadeias de suprimento internacionais exigem critérios ambientais, sociais e de governança na ponta final dos contratos. Quem não se ajusta perde mercado, resumem executivos ouvidos pela coluna.
“Não interessa se acreditamos ou não: a realidade se impõe. Secas e enchentes obrigam governos e empresas a se adaptarem”, disse Rafael Tello, presidente de sustentabilidade da Ambipar, atual líder do Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3.
Há também pressão por capital. Bancos e investidores condicionam financiamentos e melhores taxas a metas ESG, além de oferecer instrumentos verdes atrelados a resultados de sustentabilidade.
Na TIM, por exemplo, o ESG não é um departamento — é cultura corporativa, explicou Mario Girasole, vice-presidente da operadora.
A empresa hoje obtém 65% de sua energia de usinas solares próprias. Para a diretora de ESG da empresa, Anna Carolina Meireles, energia limpa “movimenta cadeias inteiras da nova economia”.
Curiosamente, muitas das vozes mais ativas vêm de empresas que precisaram reformular governança após crises. A Braskem, abalada por casos de corrupção expostos na Lava Jato, respondeu com políticas globais de sustentabilidade, comitês de governança e metas de redução de emissões.
A Marfrig, multada pelo Cade por formação de cartel, incorporou direitos humanos ao estatuto e vinculou remuneração de executivos a metas ESG.
No Pacto Global da ONU, que reúne mais de 2,5 mil organizações no Brasil, há consenso: Guilherme Xavier, diretor da iniciativa no país, aponta que a indústria mostra “boa vontade” para avançar em práticas sustentáveis.