O impacto da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado fez a oposição chegar desorganizada ao Congresso depois do fim do julgamento. Até a semana passada, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), fazia uma defesa enfática da anistia “ampla, geral e irrestrita”, em confronto com o processo na Primeira Turma do STF. Essa disposição mudou depois das sentenças impostas pelo Supremo aos réus do núcleo central da tentativa de golpe.
O que se viu nesta segunda-feira, 15, foi uma sequência de desencontros quer reduziram a capacidade da oposição de impor pressão sobre a pauta da Câmara. Mais uma vez, os bolsonaristas contavam com o desembarque em Brasília do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para trabalhar pela anistia. Tarcísio, porém, desistiu da viagem que ocorreria no final da tarde desta segunda-feira.
Em vez de dar mais um passo em defesa da anistia, o governador decidiu pedir autorização ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação que condenou os golpistas, para visitar o ex-presidente na prisão domiciliar. O pedido foi atendido, mas para o dia 29 de setembro. Ao fixar essa data, o ministro adiou em duas semanas uma conversa que será importante para as negociações em torno da anistia e de outras pautas da oposição.
Mesmo depois da condenação, Bolsonaro tentar manter o poder de influência na oposição. A defesa do ex-presidente pediu a Moraes autorização para ele receber visitas semanais de aliados, incluindo na lista o presidente do PL, Valdemar Cosa Neto, o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), relator do projeto de anistia, e Tarcísio. Os advogados usaram como argumento a necessidade de Bolsonaro coordenar pautas institucionais, planejar ações políticas de alcance nacional e, também, de manter “interlocução” com Valdemar.
Os pedidos foram autorizados pelo ministro, mas em datas específicas, não semanais. Valdemar e Valadares puderam visitar o ex-presidente na noite desta segunda-feira, 15, e Tarcísio apenas dentro de duas semanas.
Além da ausência do governador em Brasília esta semana, outro fator atrapalhou as conversas da oposição. No sábado, 13, Valdemar admitiu em uma entrevista que houve planejamento para o golpe de Estado na transição de governo, justamente a tese defendida pelos ministros do STF para condenar o ex-presidente. Diante das críticas que recebeu de bolsonaristas, Valdemar tentou se corrigir nesta segunda-feira, mas o estrago já estava feito. Nas redes, ele já havia recebido críticas de aliados importantes de Bolsonaro, como o empresário Paulo Figueiredo, o advogado Fábio Wajngarten e o deputado Ricardo Salles (Novo-SP).