Quando o desempenho nas redes sociais passou a ser visto como um medidor do potencial eleitoral, a velha guarda do Senado olhava com desconfiança a chegada dos “lacradores” e comentava: “Esse pessoal é das redes, não é da política”. Misturados no cotidiano do Congresso, os políticos mais jovens passaram a influenciar os mais velhos no manuseio dos celulares e da internet, ambiente onde gafes, declarações fora do tom e ataques levianos são vistos como “do jogo”, prevalecendo a máxima: “falem mal, mas falem de mim”.

Enquanto aconteceu a transição digital, o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) fez sua carreira política. Ele foi vereador e deputado federal antes de chegar pela primeira vez ao topo do Congresso, em 2019, em uma disputa contra o experiente senador Renan Calheiros (MDB-AL), que na época enfrentava um desgaste profundo de imagem.

Com 49 anos, Alcolumbre se identifica mais com o jeito de fazer política à moda antiga. Cumprimenta todo mundo e espalha os seus aliados por cargos estratégicos no governo. Ele patrocinou o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como seu sucessor em 2021 e recebeu o apoio do aliado para voltar ao posto em 2025. As relações se baseiam na palavra empenhada, com reciprocidade. 

Nesta semana, o presidente do Senado deixou clara a sua intolerância com a lacrações nas redes sociais. Ao reclamar das investidas do senador Eduardo Girão (Novo-CE) na internet, falando de sua ausência nas últimas sessões do Senado, Alcolumbre iniciou um desabafo público, o que não é comum em sua atuação política. Ele também demonstrou irritação ao se referir às ações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos contra o Brasil.

O que diferencia o Alcolumbre do desabafo daquele que chegou, tranquilamente, para assumir sua cadeira na mesa diretora na primeira semana de agosto, com bolsonaristas acorrentados no plenário, foi o nível de fel que ele estava disposto a destilar. Ao mesmo tempo em que informou que o motivo de sua falta era uma indisposição estomacal, ele botou um freio nos arroubos dos senadores de direita que tentam emplacar no Senado a discussão sobre impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a anistia para os condenados pela tentativa de golpe de Estado. 

No Planalto, a ascendência de Alcolumbre sobre o Senado é vista como positiva, principalmente em contraposição à imprevisibilidade da Câmara sob a gestão de Hugo Motta. “Como ele é mais firme, aquilo que ele se posiciona, acaba prevalecendo. É bem diferente do que ultimamente ocorre com o Motta”, comentou uma fonte do Palácio.