O governo estima uma safra recorde de 353,8 milhões de toneladas de grãos para o ciclo de plantio que começará no fim de 2025 e terminará em 2026, nas contas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento Conab). O resultado será influenciado pelo aumento na área cultivada, que deve sair de 81,74 milhões de hectares para 84,24 milhões de hectares, e pela demanda internacional aquecida. Apesar das projeções otimistas, o clima é o principal risco que pode influenciar negativamente o desempenho do agronegócio e pressionar a inflação.
A probabilidade de formação da La Niña entre outubro e dezembro de 2025 aumentou de 58% para 71%, segundo dados da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), agência científica do governo dos Estados Unidos que estuda os oceanos, a atmosfera e as áreas costeiras do país.
Segundo Bruno Balassiano, analista econômico do BTG Pactual, o fenômeno climático costuma gerar temperaturas mais amenas e menor volume de chuva em parte da América do Sul e, possivelmente, no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil. Esse quadro pode atrasar a semeadura da próxima safra de grãos e pressionar os principais reservatórios do país, o que eleva a probabilidade de uma bandeira tarifária mais alta no fim do ano, afirmou Balassiano.
“Nosso cenário base para energia elétrica supõe bandeira verde em dezembro, mas as chances de uma bandeira mais elevada parecem ter aumentado. Uma bandeira amarela em dezembro adicionaria cerca de 0,1 ponto percentual ao IPCA cheio de 2025, enquanto uma Vermelha 1 adicionaria cerca de 0,23 ponto percentual, representando um risco altista relevante para nossas projeções de 2025”, disse o analista.
Com clima semelhante ao do sul do Brasil, a Argentina também pode ser afetada pela La Niña, afirmou a analista Priscila Trigo, do Bradesco. O fenômeno climático está normalmente associado à redução da safra de grãos no país vizinho por conta de clima seco. Segundo Trigo, possíveis perdas no Brasil e na Argentina alterariam o balanço global de grãos, com aumento no preço das commodities. Apesar dos riscos, ela disse que ainda é cedo para prever um cenário de perdas.
“De qualquer forma, a possível perda da safra de grãos teria impacto reduzido no nosso cenário econômico. O efeito em PIB agropecuário tende a ser pequeno, uma vez que nossa principal cultura, a soja, não seria impactada. As perdas nas exportações também seriam pequenas, amenizadas pela alta dos preços internacionais de milho e pelo fato de arroz, feijão e trigo serem voltados ao abastecimento doméstico”, disse.