As casas de apostas detectaram o uso crescente de VPN por apostadores brasileiros para contornar a regra de um CPF por cadastro e também acessar sites estrangeiros. As bets de outros países, por vezes, apresentam ofertas melhores de retorno financeiro, o que tem atraído a atenção dos apostadores.
O que parece truque inofensivo esconde um problema milionário: ao se camuflar, o apostador tira a operação do radar fiscal e complica o rastreamento de ganhos e perdas.
A regulação do Ministério da Fazenda prevê que fraudes geográficas devem ser coibidas pelas próprias bets. A instrução normativa obriga que cada aposta seja validada via geolocalização, com bloqueio automático e reporte de tentativas.
Na prática, no entanto, as VPNs desafiam os sistemas de detecção. Grandes plataformas têm recorrido à inteligência artificial e inspeções profundas para tentar diferenciar conexões legítimas de camufladas.
Nas redes sociais, multiplicam-se vídeos e tutoriais de “como apostar de fora” ou “qual a melhor VPN para enganar as bets”.
Para Carlos Eduardo Guerra, professor do Ibmec, parte do comportamento dos apostadores pode ser atribuído à atuação de influenciadores que tratam apostas como investimento. O especialista também ressalta a desigualdade estrutural do país também serve de combustível ao comportamento.
“Hoje, o influenciador tem uma presença e um impacto muito mais forte do que aviso de que é preciso responsabilidade com bets. Estamos em um país de pouquíssimas oportunidades, então, a ideia de que bets são uma fonte de renda se tornaram uma realidade na população brasileira”.
O fenômeno se soma a outro ingrediente que ajuda a explicar por que o Brasil virou terreno fértil para as bets. Roberto Kanter, economista e professor da FGV, diz que a facilidade de uso das plataformas, aliada ao apelo emocional, captura perfis variados:
“O maior investimento de tecnologia das bets está na usabilidade do usuário. É muito fácil você fazer uma aposta em um clique. O jogo mexe com carência e desequilíbrio, e isso é combustível para a epidemia.”
