O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve trabalho para conter parlamentares da sua própria bancada que se posicionavam contra o pacote de corte de gastos e alardeavam que votariam contra as medidas no Congresso. Cerca de 20 parlamentares petistas manifestavam posição contrária à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que mudava as regras do abono salarial e dos supersalários do funcionalismo, quando ela foi aprovada na Câmara por 344 votos a 154.
Três desses votos foram petistas: dos deputados Rui Falcão (SP), Marcon (RS) e Natália Bonavides (RN). Várias medidas do pacote fiscal, incluídas na PEC e também em um outro projeto de lei e um de lei complementar, acabaram desidratadas. Ao final, foram aprovados pela Câmara e pelo Senado, com cortes de despesas menores do que o governo desejava inicialmente.
Deputados mais à esquerda do PT alegavam que propostas como as como as novas regras do salário-mínimo, com um teto para aumento real de no máximo 2,5%, e do BPC (benefício pago a idosos e pessoas com deficiência), que restringia o pagamento a mais de um membro de cada família necessitada, prejudicavam os trabalhadores e os mais pobres. Muitas dessas medidas eram combatidas também por parlamentares mais alinhados à direita.
Houve pressão de líderes do governo e do PT para que grande parte dos parlamentares petistas recuassem do voto contrário, conforme um deles relatou ao PlatôBR. Rui Falcão, ex-presidente nacional do PT, foi um deles. Ele afirmou “não ser funcionário do partido” nem obrigado a aderir às propostas. Foi pedido a ele para evitar o anúncio antecipado de seu voto, pois, por ser um quadro importante do partido, acabaria influenciando outros colegas de bancada. Falcão não anunciou, mas manteve sua decisão.
Um dos mais antigos militantes do PT, Falcão foi deputado estadual em São Paulo, secretário de governo na gestão da petista Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, presidente nacional do partido em 1994, vice-presidente entre 2009 e 2011, e novamente presidente entre 2011 e 2017. “Sou do tempo em que a gente votava para não reduzir direitos. Estou bem com minha história e minha consciência”, disse Falcão, no dia da votação.
Antes da votação, ele admitia que, apesar da posição contrária de vários colegas ao pacote fiscal, por causa da pressão, ao final das votações poderia acabar sozinho ou “quase sozinho nessa briga”.
A deputada Natália Bonavides, 36 anos, que votou ao lado de Rui, foi candidata derrotada à prefeitura de Natal (RN) nas últimas eleições municipais. Foi para o segundo turno, mas perdeu para Paulinho Freire (União Brasil). Jovem, é vista como um quadro em ascensão no partido. O outro deputado, Marcon, é agricultor ligado a um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul.