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Da Faria Lima para Brasília, um sinal na direção do diálogo

Ao Brazil Journal, Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners, diz que estresse “não interessa a ninguém” e defende que Lula entre em campo para abraçar a causa fiscal

O banqueiro Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners, em entrevista ao Brazil Journal
Reprodução/BJ

A Faria Lima quer propor soluções e conversar com o governo. É essa, em suma, a mensagem que sobressai de uma entrevista publicada neste fim de semana pelo Brazil Journal com um importante player do chamado “mercado”, o banqueiro Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners.

Em meio à crise decorrente do mau humor generalizado após o anúncio do pacote fiscal, que mexeu com a bolsa e fez a cotação do dólar disparar a recordes históricos, Ricardo Lacerda afirma que o ambiente de estresse não interessa a ninguém e defende que os ruídos entre o presidente e a Faria Lima têm de acabar.

Para isso, diz, Lula “precisa entrar em campo e abraçar a causa fiscal”.

“Goste-se ou não do presidente Lula, ele é a maior liderança política da história republicana. Já está no terceiro mandato e é uma pessoa com enorme capacidade de articulação e precisa abraçar essa causa,” afirmou Lacerda, fundador do BR Partners, banco de investimentos que ajuda empresas a investir e comprar outras empresas.

O banqueiro vê o cenário atual com preocupação. O sinal de alerta veio com força neste mês de dezembro: “Começo a ver projetos caindo e investimentos sendo cortados em função do cenário fiscal”. “Muitos clientes estão dizendo que está impossível se financiar a 18% ou 19%”, disse ele ao Brazil Journal, veículo parceiro do PlatôBR (assista à entrevista em vídeo aqui).

Lacerda não vê solução mágica – ou “bala de prata” –, mas crê que há tempo hábil e margem de manobra para que o governo faça mudanças significativas no arcabouço fiscal, o conjunto de medidas anunciado no início da gestão Lula para tentar limitar os gastos públicos, em substituição ao teto de gastos implantado ainda no governo de Michel Temer.

“O arcabouço foi uma substituição ruim do teto de gastos, e ainda não é suficiente. Ele tem que ser aprimorado e credibilizado. (...) Hoje ele não tem credibilidade”, afirma.

Haddad e Galípolo
Para o banqueiro, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) “tem feito tudo o que é possível”, mas é preciso ampliar o esforço para além dele. “Sinceramente, não depende do ministro. É preciso que o presidente Lula coloque para a sociedade, de maneira mais propositiva, como o governo vai gerir essa situação fiscal ao longo dos próximos anos.”

Lacerda demonstra confiança na atuação do economista Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central. Indicado pelo próprio Lula, de quem tornou-se pupilo, Galípolo assume o posto de Roberto Campos Neto no início de 2025. “O Galípolo tem sido muito claro sobre como são tomadas as decisões do Copom e repete em todas as palestras que cada palavra do comunicado é muito bem pensada e embasada por uma série de análises.”

Papel do Congresso
Embora sinalize para Lula e o Palácio do Planalto ao defender a adoção de medidas mais contundentes para conter os gastos públicos, Lacerda aponta também para o Congresso Nacional. Diz que cabe deputados e senadores têm um papel importante na contenção da crise – por exemplo, na revisão dos incentivos e renúncias fiscais, que contribuem significativamente para que a conta da diferença entre receitas e gastos públicos não feche a contento.

“Temos R$ 500 bilhões em renúncias fiscais e esses incentivos são inviáveis. É nisso que o Legislativo precisa trabalhar,” disse.

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